segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Silêncio

Me deixa ficar em silêncio, preciso ouvir o barulho dos meus pensamentos. Resignada no escuro do quarto onde o medo nem sempre consegue me atingir, me deixa ficar. Não quero sentir nada, não me ocupo tentando organizar as idéias, só preciso desacelerar.

Me deixa pensar em planos e desfazê-los com a mesma rapidez que nascem. Sonho de olhos abertos e adormeço esgotada. Tento lembrar dos projetos que se perderam pelo caminho, tento transformar o abstrato em concreto.


Me deixa sofrer. Deixe que rupturas me conduzam à novas fases, saudade não é mensurável. Não me julgues, não me tentes, só fica em silêncio e amanhã eu levanto com a certeza de que é outro dia, um novo dia.

domingo, 17 de outubro de 2010

O presente favorito!

Ela tinha seis anos, há pouco se livrara das rodinhas. Depois de vários tombos e alguns band-aids ela podia finalmente se sentir livre na plenitude de seu equilíbrio. A bicicleta cor-de-rosa com adesivos da Xuxa enfim fora dominada por ela e agora era pequenina demais. Ela precisava de um novo desafio.

O Dias das Crianças era data esperada com ansiedade. A curiosidade dela era daquelas que faz perder o sono, dá coceira em menino e perturba o juízo, diante dela um apartamento fica pequeno para esconder um presente. Então, ao fuxicar o banheiro da dispensa lá estava o objeto de desejo, imponente e vermelha, até brilhava. A espiada não durou muito tempo, ela sabia que alguém poderia aparecer.


E descobriram a espiada. E veio vovô com uma história mirabolante de um sobrinho sabe-se lá de onde, não era lá uma boa desculpa, mas por um momento ela acreditou que o brinquedo não era para ela. Frustração de criança é de cortar o coração, mas eles foram fortes. E chegou o grande dia e nada foi tão divertido quanto o presente do vovô.


Dezesseis anos depois ela ainda lembra da sensação de subir na bicicleta debaixo do bloco e sentir o vento no rosto. Com um pouco de tristeza, lembra da falta que o vovô lhe faz, mas a lembrança deliciosa do pequeno homem de sorriso largo lhe entregando é reconfortante, nenhum dos outros netos terá o que ela teve. Foram muitos presentes, mas nenhum Dia das Crianças é lembrado com tanto carinho.