quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Da série: Músicas das piores dores de cotovelo do mundo

“Vai sim, vai ser sempre assim uma pra cada lado como você quis”. Foi você e não eu quem escolheu o fim, nada é mais dolorido, Luiza Possi cantou bem. Ao ouvir melodias assim se você não estiver sofrendo começa a sofrer, lembra do seu primeiro fora, do cara que não te amou como o esperado ou qualquer outra coisa, tem música que tem esse dom.

O samba tem hora que maltrata. “Mas vai embora antes que a dor machuque mais meu coração, antes que eu morra me humilhando de paixão e me ajoelhe te implorando pra ficar comigo”. Nesse momento a gente já perdeu a dignidade.


Há quem diga que não basta ser de fossa, tem que ser brega. “Saiba que meu grande amor hoje vai se casar, mandou uma carta pra me avisar, deixou em pedaços meu coração”. Nesse gênero a lista é extensa, só encostar em algum boteco por aí ou sintonizar o rádio em um programa “para ouvir e amar”.


As grandes estrelas também cantaram muita tristeza pela MPB. “Dei pra maldizer o nosso lar, pra sujar teu nome, te humilhar e me vingar a qualquer preço, te adorando pelo avesso. Pra mostrar que ainda sou tua. Até provar que ainda sou tua”. A clássica interpretação de Elis Regina no especial da Rede Globo em que ela se emociona. http://www.youtube.com/watch?v=35FPZR24djg


E temos as clássicas em outros idiomas também, Maysa sofreu em francês com “No me quitte pas”. “And i'd give up forever to touch you, cause i know that you feel me somehow, you're the closest to heaven that i'll ever be and i don't want to go home right now”, a música da década de 1990 da banda Americana Goo Goo Dolls ainda machuca muita gente por aí.


Pausa para deixar as lágrimas rolarem.


Os homens também sofrem e falam muito bem de suas dores. “Devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu. Eu bato o portão sem fazer alarde. Eu levo a carteira de identidade. Uma saideira, muita saudade. E a leve impressão de que já vou tarde”. Chico Buarque e Milton Nascimento talvez sejam meus compositores preferidos quando o assunto é falar sobre o que sinto.


Não foi a primeira, nem será a última, dores vem e vão, ficam as lembranças. Unindo meu amor à música e a tudo que sinto penso que ainda tenho muita coisa para ouvir e muita melodia para curtir fossas nos próximos "anos-novos". “Não penso em me vingar, não sou assim, a tua insegurança era por mim”

sábado, 25 de dezembro de 2010

Família é prato difícil de preparar(Trecho do Livro "O Arroz de Palma,de Francisco Azevedo)

Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio.

Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo.


Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados.


Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre.


Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada. O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Meuni; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é a Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.


Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.Enfim, receita de família não se copia se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.


Francisco Azevedo - Dramaturgo e Roteirista

domingo, 19 de dezembro de 2010

Meus amigos de infância

“Abrindo horizontes na nova capital...”. E eu me vi ali, cantando o hino do colégio, fazendo exatamente o que eu sempre vi meu pai fazendo com os amigos no auge da embriaguez, achava divertido e um tanto brega, mas me vi sentindo a nostalgia de um tempo feliz, não estava bêbada, apenas feliz.

Alguns conhecia há 13 anos, outros um pouco menos, 9 anos, com a boca cheia podia chamá-los de amigos de infância e parecia que o tempo nem tinha passado. Saudade de quando tudo parecia, e era, mais simples. Orgulho ao ver o sucesso de gente mais que especial na minha vida, ao ver que minhas apostas foram corretas, alguns seguiram o caminho que havíamos previsto.

A prova de que são os amigos de colégio que ficam. A menina que gostava de livros e agora tem dois cursos. O cara que sempre amou geografia e virou professor. O loirinho tímido que agora é simpático. O casal que a gente ainda espera o casamento. A pequena que continua pequena. O engraçadinho da turma cresceu.


A garota que gostava de esportes e agora é nutricionista. Um virou agrônomo e o grandão foi para a administração. O violão que era só diversão virou profissão da mais querida das criaturas. E o garoto especial continuava especial do seu jeito. E assim a vida seguiu, mas naquela noite parecia que não tínhamos anos sem nos ver, como se ainda ocupássemos as carteiras cinzas das salas de aula.


A bedel que gritava pelos corredores, as competições esportivas, os namoros e rolos. Nossas reuniões com violão, as festas americanas, as músicas do tempo de festas de debutantes. Seis anos depois de formados e uma vontade de voltar, ou de permanecer, de não perder o que nos unia e manter o que nos mais é precioso. Assim, eu podia cantar por horas o mesmo hino, simplesmente porque eles estavam ali. “Ceub, Ceub em nobre missão...”


Brigada por fazerem parte da minha vida!

domingo, 12 de dezembro de 2010

É o tempo...

Há momentos em que parece que o tempo para, em outros ele parece correr á léguas de mim. Ainda não aprendi a controlá-lo, ele rouba meus pensamentos, adormece meus sonhos e insiste em me fazer passar. O problema não é o que passa, mas o que fica, a incerteza do que vem e o saudosismo do que já foi.

Mais um fim de ano e vem o maldito balanço, tudo chegando ao fim - exceto quando a Universidade subverte a ordem e diz que o fim é no primeiro mês do ano. Vem uma vontade de recomeçar, de tirar do baú os antigos planos, criar novos, reestabelecer metas. Mas antes disso, me pego pensando nos dias passados, por onde eu deixei minhas 8760 horas...

Ainda quero dias muito maiores, quero rotinas abarrotadas, quero ler um milhão de coisas e correr na praia todos os dias, quero morar perto do mar. Ter coragem de me sentir vulnerável me arriscar mais, ainda pretendo dominar o mundo. Quero saber me encontrar na minha solidão e agradecer às pessoas que tornam meus dias mais fáceis.

Não sei se me assusto com a última folha do calendário ou agradeço por já ser o fim, só peço para que o tempo não adormeça os desejos de 2012.