sábado, 5 de novembro de 2011

No traço que me faço me descubro em uma seqüência de linhas confusas que em tempos fazem absoluto sentido, em outros são totalmente desconexos e incoerentes.Ou sou tudo ou sou nada. Não aceito meio-termos. Não sei viver um quase-amor. Tenho feridas que já nem sabia que existiam e me nego a deixar a cura por conta do tempo, não sei ser agente passivo.

Posso não estar pronta para você e por alguns minutos até admito o clichê “não é você, sou
eu”. Respeite minha individualidade, mas não se deixe dominar. Preciso de desafios, me inspire a ser sempre mais. Eu era mais simples, eu cedia com maior facilidade, eu juro. Mas não é culpa minha, só não acredito mais, sabe a garotinha romântica? Se perdeu, escondida no mesmo armário que guardou a Cinderela e os outros tantos contos de fada...

Por favor não volta, você nem mesmo foi capaz de fazer as mudanças necessárias. Não recorro
à nostalgia, não quero lembrar do tempo que tudo fazia mais sentido quando você estava perto. Prefiro não pensar em como osseus olhos me diziam tudo que eu precisava saber. Nem pretendo recordar todas as lágrimas derramadas na companhia do Chico. As trilhas sonoras ainda me despertam emoções que insisto em esconder.

Você saiu, eu decidique era hora. Mas um dia você aparece e eu perco aquela certeza deque tinha do fim. Não porque decidi mudar de idéia e voltar aacreditar, mas porque o medo ainda me consome, aquele medo decontinuar sendo sempre a melhor amiga, a prima, a companheira, mas nunca o tudo de alguém. Porque com você, por um tempo, eu sabia que era tudo.

As minhas paralelas vão contra lógica e podem se cruzar em algum ponto do horizonte. Obedeço regras que eu mesmo criei. Não sou inconstante, mas surpreendo com facilidade, por vezes até a mim mesma. No traço que me faço, percebo que ainda tenho muito a descobrir

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Quantos minutos mais???

Um, dois, três, quatro....120. Só essa contagem, alguns segundos e enquanto eu conto e mal consigo pensar em o que é possível fazer em tão pouco tempo mulheres são covardemente agredidas por todo o país. A cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil. A pesquisa é da Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC. Um problema grave que as políticas públicas ainda estão longe de sanar.
 
Segundo a DataSenado, 32% das mulheres que sofrem violência permanecem convivendo com os agressores. Os motivos são vários, dentre eles, o medo, a dependência econômica e a pior delas a dependência emocional, em que a mulher ainda acredita na regeneração do algoz. A doutora em direito penal Alice Bianchini alerta.”É necessário que o magistrado que analise o pedido de decretação de medidas protetivas com urgência, a fim de se evitar o constrangimento e, principalmente, diminuir a situação de perigo a que a mulher agredida está exposta, por conta da decisão de buscar romper com o ciclo de violência”. Atualmente, o Brasil dispõe apenas de 71 Casas-abrigo para mulheres em situação de violência doméstica.

No último mês, passei duas semanas fora e quando voltei as notícias eram de uma estudante aqui de Brasília assassinada por um professor universitário infeliz com a separação do casal e de uma moça de Natal que teve o braço quebrado em uma boate porque rejeitou uma criatura. E um dos comentários na notícia da boate no site da Globo era de um homem, o sujeito escreveu: “Quem procura acha, se tivesse ficado em casa quieta não teria passado por essa”. Que espécie de homem é esse? Me faz pensar que ele apenas verbalizou o que muitos pensaram o que é mais triste ainda.

No último sábado eu presenciei duas tentativas de agressões contra mulheres em um show e observei como essa violência é arregimentada e naturalizada pelos participantes. Quando foi necessário um agente externo para impedir o agressor de finalizar o chute que direcionava a uma menina. O agressor da moça de Natal alegou que o braço teria “se quebrado no chão”, mas ele saiu imediatamente da boate após agredir Rhanna, no minimo incoerente eu diria. O rapaz falou ainda que a moça teria jogado bebida nele. Em que mundo um copo de bebida justifica um braço quebrado? A culpa não pode ser transferida para o agredido em hipótese alguma, simplesmente porque na minha cabeça violência é algo injustificável.

Me chamou à atenção o desabafo do pai de Rhanna."Você cria, né? Educa. Você investe, você procura proteger. Quando você vê, um qualquer um, uma pessoa desqualificada, um covarde chega e consegue atingir a integridade física. Eu não estava lá pra presenciar. Me senti impotente. Perplexo, mas impontente". Nenhum pai coloca uma filha do mundo para ser agredida. 

Penso na responsabilidade dos pais nesse problema. Assisti uma palestra do ator Tony Porter sobre o peso social de ser homem, o que ele chama de “man box”, em que meninos precisam ser fortes, corajosos, dominantes, sem dor, sem emoções e “definitivamente sem medo”. Porter convida para um processo de de desconstrução e redifinição dessa conceituação de masculinidade utilizando um dos exemplos mais bonitos que poderia usar: “Gostaria de dizer, que esta é o amor da minha vida, minha filha Jay. O mundo que eu vejo para ela, como vou querer que os homens ajam? Preciso de você nessa. Preciso de você comigo. Que trabalhe comigo e eu trabalhe com você em como criamos nossos filhos os ensinando a serem homens, que está bem não ser dominante, que está bem ter sentimentos e emoções, que está bem promover igualdad, que está bem ter mulheres que são só amigas, que está bem ser íntegro, que minha liberdade como homem está presa a sua liberdade como mulher.” 

O apelo não é só aos homens, mas às mulheres também. Se temos homens machistas é porque temos mães machistas, eles simplesmente não aprenderam em casa como respeitar uma mulher. Não acredito que exista solução para uma criatura que agride uma mulher, merece prisão e sem direito à negociações, mas me junto ao chamado de Tony Porter e acredito que são os pais os principais agentes modificadores das próximas gerações, acredito que podemos criar homens melhores. Quantos minutos mais levaremos para resolver a questão?

domingo, 18 de setembro de 2011

Ainda chego lá

Sempre achei que ser mulher requer muito tempo. Primeiro, porque gostamos de coisas que tomam nosso tempo: se arrumar, conversar, cuidar, falar e amar. Qauntas vezes perdi uma tarde inteira numa liquidação, uma noite ouvindo o desabafo de uma amiga e horas falando sobre o amor ou simplesmente amando? Porque a gente, quando tem uma noite de amor, só quer falar disso nos dias seguintes. Arrumar também detona o tempo. Arrumar a casa, a obra, a vida, a si mesma. Sem falar na horas pagas que gastamos na terapia. Depois de se arrumar, a gente sempre acaba cuidando de alguém: de cachorros a filhos, passando por maridos e avós. Meu pai dizia que só queria filhas mulheres porque mulher tem o dom de cuidar. Ele teve três filhas, que cuidaram dele até o fim, e a saga continua com cinco netas, que certamente vão cuidar dos pais.

Tem outra coisa que engole o tempo e que mulher faz muito bem: pensar.


“O Carlos estava tão esquisito hoje, tenho que deixar o dinheiro para feira, estou envelhecendo, saudades da Paulinha, é aniversário da vovó, vestido lindo, minha unha está péssima, meu pai não está legal, preciso malhar, que mundo violento, como o tempo passa, Maria se separou, vou ligar para ela, preciso falar sobre isso na terapia, amanhã tem pilates”

Pensamentos gastos numa noite acordada, numa rua engarrafada ou na esteira suada. Ou, enquanto pega e-mails, ela manda uma mensagem de texto e entra no Facebook. Não acho que mulher faz dez coisas ao mesmo tempo por insanidade, e sim por necessidade. Para ganhar mais tempo para si e para o outro.

E quando a gente acha que está ganhando do tempo, vem marido e filhos e um monte de teoria. De que o casamento tem que ser regado todos os dias (o que detona tempo e paciência), e isso significa transar com ele pelo menos três vezes por semana, ser romântica, ficar bonita, e conversar. Outra teoria muito usada e incentivada pela culpa é de que o filho tem que ter atenção absoluta, caso contrário cresce inseguro (nessa teoria, vai toda uma vida). A última e mais cruel teoria é de que conquistamos um mercado de trabalho machista e competitivo, portanto a hora de trabalhar é agora, porque o mercado é cruel com os mais velhos e é preciso se reinventar a todo momento. (Aí, se perde, além de tempo, toda a calma interior que nos resta).

Como amar os filhos, transar com o marido, trabalhar o dia inteiro, malhar, se cuidar, organizar a casa, trocar a babá e se reinventar em 24 horas?

“Se for só mãe, não vou me sentir realizada profissionalmente, se for workaholic, vou ser péssima mãe; se não me cuidar, meu marido vai me largar; se não organizar a casa ela não anda, se me preocupar demais pode prejudicar a saúde. E para ser saudável, tenho que viajar pra relaxar”. Mais uma coisa que toma tempo: organizar uma viagem. Ainda sobram os amigos e a família.

A prova do ou isso ou aquilo

De vez em quando, penso que, se o dia tivesse mais quatro horas, metade dos meus problemas estaria resolvida. Sobrariam mais uma hora pra minha filha, outra para mim e as outras duas para ir ao cinema com meu marido (filme de três horas está fora dos planos). Ainda faltariam mais uma horinha de sono, outra para fazer um check-up, ler um livro e pensar na vida.

Todo dia, faço uma listinha do que tenho que fazer no dia seguinte, ao longo do dia vou riscando mus compromissos com orgulho de um atleta batendo seu próprio recorde.

Ao fim do dia, quando a listinha está toda assinalada, sinto um prazer quase sexual em saber que eu consegui cumprir tudo. Pego uma folha branca e recomeço minha luta do dia seguinte, Tenho também uma lista paralela, que fica guardada, essa sem tempo estabelecido, para quando tiver tempo. Nessa, se incluem coisas como: arrumar armários, doar roupas, organizar fotos, ler livros, meditar, trocar o sofá, consertar a bicicleta, fazer um curso e aprender uma receita. Essa lista existe há anos, e todo ano renovo, colocando mais um item: ter mais tempo. Ás vezes, engano o tempo fazendo “a prova do ou”. Ou vou à ginástica ou durmo, ou levo minha filha à escola ou à natação, ou visitar minha mãe ou minha irmã. Ou durmo ou namoro. E perco um tempão escolhendo o que é melhor para aproveitar o tempo.

A gente reclama que não tem tempo, mas esquece que, há pouco tempo, a gente tinha que ir a um orelhão telefonar, parar para escrever uma carta, levar ao correio e esquentar uma comida na panela. Hoje, o celular, a internet e o micro-ondas encurtaram o tempo, e eu tenho a sensação de que tenho menos tempo ainda.

A vida se tornou barulhenta. Às vezes, tenho saudade de gastar tempos com o silêncio, de ouvir uma música inteira, de não ter que fazer nada, de ter tempo para a tristeza, de não ter caneta para anotar meus afazeres que eram apenas afazeres. Tempo para ser complexa. Para chorar e me recuperar sem ter que colocar uns óculos e sair correndo. Eu desligava o celular e desligava a mim. Hoje, se quiser me desligar nem sei mais onde fica o botão. Não tenho mais tempo para sentir o tempo. Talvez porque a gente tenha se ocupado demais para suprir os nossos desejos que a gente nem tempo de saber quais são. E hoje a frase que mais repito é: “Não dá tempo”.

Por que será que na infância a gente não pensava no tempo? E, na adolescência, a gente queria que ele passasse rápido? Por que será que os homens só pensam no tempo quando aparecem os cabelos brancos?

Mas eu queria saber mesmo é quem inventou que o dia tem só 24 horas? Quem fez essa conta errada?

Algum homem, é claro, casado com alguma mulher que consegue cumprir a listinhas de todos os dias


(Ingrid Guimarães)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

À elas com carinho...

Minha primeira boneca Barbie logo ganhou companhia e passamos a passear por aí. Íamos eu, minha boneca e todas as tralhas dela passar tardes divertidas em outro território. O tempo nunca era suficiente, no fim sempre tinha o “mãe, só mais meia hora”. Passávamos horas ali, entre roupas, carros, banheiras e todo os assessórios que nossas bonecas tinham, e quando não tinham a gente inventava, nas nossas brincadeiras a imaginação não obedecia limites. Há quase vinte anos eu aprendi com você o que era compartilhar.

A escola não é fácil para ninguém. Sempre achei que ou eu era muito pequena ou o mundo que andava rápido demais ao meu redor. Ninguém entendia muito bem os meus problemas, eles eram sérios, pelo menos ao meu ver, mas os adultos insistiam em ignorá-los. E você estava lá, mais bonita, por vezes mais esperta e sempre disponível para os dramas adolescentes. Foram anos assim, eu pra você e você pra mim. Com você eu descobri o que era fraternidade.

Tomar decisões nunca foi o seu forte, eu me assustava, mas acho que ainda me virava bem. O último ano do que até então conhecíamos como organização social estava indo embora. Olhar para o futuro trazia uma sensação de desconforto misturada a nossa freqüente ansiedade, que nos acompanha até hoje. Chegou a formatura e as dúvidas se agravaram, a Universidade se mostrou mais trabalhosa do que imaginávamos. Foram vários puxões de orelha. Você me ensinou sobre ser incondicional.

Algumas pessoas simplesmente surgem em nossas vidas. Com você foi assim, numa tarde quente em um aula improvável. O tempo foi pouco, eram só algumas horas por semana de uma falação interminável, mas o necessário para algo que duraria a vida toda. E veio a mesa cativa, a revista recém editada, começamos a brincar de ser gente grande. A vida seguiu e nossos projetos começam a tomar formas. Você me ensinou sobre determinação.

Sensibilidade seria a sua palavra, aos poucos aprendeu a ler meus sorrisos, meus olhares e meus silenciosos pedidos de ajuda. Protagonizou boa parte das histórias engraçadas que conto por aí, companhia necessária de batizado à casamento. O sorriso largo e a paciência me mostraram um lado que eu não conhecia, a sensibilidade se confunde com sensitividade com você. E se tudo caminhava para que fosse uma concorrente, ganhei uma parceira. Com você foi fácil aprender sobre cumplicidade.


A despedida e a vida em outra cidade mostraram o longo caminho que ainda temos a cumprir. Tem gente que chega sem avisar e de repente toma muito espaço. Com você foi assim, não lembro de data, de ano, de acontecimento, só lembro de horas de conversa, de passeios agradáveis. Nossa torcida é sem barreiras. Com você soube o que era ter suporte.

Descobri o que me toca, o que me emociona, todas em sua maneira especial de ser. Vi a realidade de uma relação sem interesses, sem exigências, sem competição, que se orgulha do outro, que quer tomar as dores e compartilhar as felicidades. Daqui a 30 anos ainda vamos nos encontrar, sentar, fofocar, reclamar, chorar e rir como quem se orgulha ao lembrar de um passado nostálgico. Com vocês, no seu mais singelo significado, aprendi o que é amizade.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

E ela soube o que queria...

Ela descobriu cedo o que queria. Precisava conhecer o mundo, desvendar cada segredo. Preferia o incômodo de verdades explicadas ao conforto da felicidade ignorante. Era divertido ser diferente, esperar muito mais da vida que lhe fora concedida. Ela era curiosa, sabia do risco, mas também compartilhava as delícias de todas as aventuras das descobertas.


Aos poucos ela descobriu como seria doloroso procurar justificativas no que ela não podia controlar. Era mais simples sair sem olhar para trás, mesmo enfrentando a dor. Demorou para entender que nem tudo acontecia como ela imaginava. Algumas certezas não são suficiente e a eternidade por vezes pode ser só um instante. O tempo já não era tão amigável quanto antes.


Ela conheceu o poder do acalanto de um abraço, da doçura de um beijo e de uma palavra certa no momento certo. Escutou segredos sussurrados no escuro do quarto e as confidências feitas só entre quatro paredes. Sentiu a leveza de um toque e a intensidade de uma carícia. Ela aprendeu a amar


Ela foi machucada. Chorou. Algumas feridas ela simplesmente entendeu que jamais se fechariam por mais que ela se esforçasse com todo coração. A invencibilidade já não era característica tão latente e o medo crescia mais do que ela gostaria. Por mais doloroso que parecesse, as cicatrizes a seguiriam por toda a vida. Ela cresceu.


Sentiu saudade. Quis voltar, procurar o tempo da simplicidade. Encontrar o ponto perdido dos sonhos que enchiam a alma. Os desejos tinham se transformado, ela sorriu, entendeu que não se anda para trás. Ela descobriu cedo o que queria, ela sempre soube o que queria. Seguiu.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Brincadeira tem hora...

Depois do acontecido do último domingo e a impressão de que sair em Brasília vai se tornar impossível qualquer dia desses, pensei em uma questão que me incomoda há um tempo. Foi com uma brincadeira que mataram um índio queimado há alguns anos. E foi também com uma brincadeira que espancaram uma empregada doméstica em um ponto de ônibus. E foi só uma brincadeira?


Absolutamente nada justifica violência, muito menos o excesso dela, espancar alguém torna qualquer motivo torpe, mas “foi só uma brincadeira” também não é justificativa. A melhor fase que escutei sobre o caso foi: “Não sei o que é mais ridículo "brincar" de pular o portão sem pagar a conta ou espancar alguém por ter feito isso”.


No caso do Calaf, chama à atenção pelo histórico tranqüilo da casa. Durante o dia, as pessoas se assustaram, “mas logo o Calaf?”. No facebook, foram vários comentários sobre o acontecido, incluindo o início de uma mobilização. “Se você também está cansado dessas ocorrências e não pretende mais freqüentar lugares onde cidadãos são obrigados a conviver com marginais, copie e cole no seu mural!”. Um exagero eu diria e uma ofensa aos profissionais que fazem segurança.


Já vi algumas confusões no Calaf, assim como em outros lugares, sempre protagonizadas pelo alto grau alcoólico de pessoas que acham que diversão está diretamente ligada à quantidade de cachaça ingerida. Essa idéia de não medir as conseqüências dos atos, seja embriagado ou não, me incomoda profundamente.


Posso ser careta, chata ou protetora da dignidade alheia, não sei, não importa, mas se fosse amigo meu, na exata hora que ele subisse na grade eu puxava de volta e dava um esporro público, como por muito menos já briguei por aí. Posso até estar errada, mas acredito que para pular ele teve platéia e incentivadores.


Brincadeiras são divertidas, mas têm hora e medida certa. Nessa o segurança se excedeu e o sobrou para o brincalhão. Mas e se fosse o contrário? E se envolvesse mais gente? Se a confusão se alastrasse dentro do bar? Todo mundo sabe que com segurança não se brinca, sabe-se lá se o cara foi bem treinado ou se é só um aglomerado de testosterona.


Agora fica à cargo da polícia punir os responsáveis e aplicar as penas cabíveis. Mas para mim é mais uma prova de que prefiro me arrepender do que eu não fiz, assim conservo minha vida, minha sanidade e a alheia. Porque “foi só uma brincadeira” definitivamente não justifica, explica nem traz nada nem ninguém de volta.

domingo, 24 de julho de 2011

Dom: fardo ou benção???

A notícia do fim de semana sem dúvida foi a morte precoce, porém previamente anunciada, da cantora inglesa Amy Winehouse. Os problemas com drogas e álcool eram de conhecimento do público, as freqüentes “recaídas” fizeram com que a mãe da cantora declarasse ao Sunday Mirror que “a morte de Amy era questão de tempo, ela parecia estar fora de controle”. Aos 27 anos a cantora foi encontrada morta sozinha em sua casa. O que levanta uma questão importante: por que esse é o fim de tantas pessoas ligadas à trabalhos criativos?

A lista da chamada “maldição dos 27” é extensa, Robert Johnson, Janis Joplin, Jimi Hendriz, Kurt Cobain e outros. Todos em um processo depressivo que envolvia drogas e muito álcool. O fim comum dos roqueiros pode levar ao raciocínio simplista de “sexo, drogas e rock and roll”, mas que tal lembrar dos poetas, artistas e cantores de outros gêneros que também passaram pela mesma escuridão dos roqueiros?

Desde o século XIX há um senso comum de que atividades ligadas à criatividade são rodeadas por uma escuridão sem explicação. Herança da segunda geração do Romantismo talvez, quando se diz que Goethe matou mais jovens com “Os sofrimentos do jovem Werther” que a guerra, o que se sabe é que são anos de uma reputação de gênios maníaco-depressivos, emocionalmente instáveis.

Em palestra, Elizabeth Gilbert (Eat, pray and Love) falou que após o enorme sucesso de seu livro as pessoas passaram a vê-la como uma condenada. O medo de nunca mais escrever um bom livro e a idéia de que o sucesso de sua vida acabara de passar por ela, mesmo ela ainda estando com 40 anos. Como se toda a produção de sua vida tivesse simplesmente acabado. Para ela, é essa condenação que distorce egos e cria expectativas que as vezes podem não ser supridas.

O escritor Norman Miller disse que “cada um dos meus livros me matou um pouquinho”. É uma declaração muito triste se pensarmos no fardo que essa pessoa carregou a vida inteira. Na Grécia antiga, não se acreditava que a criatividade era competência humana, mas sim um sopro divino, um momento de transcendência, chamado de daemon. Esses daemons - espécies de espíritos- que eram responsáveis pelas obras, por seu sucesso ou fracasso, o que isentava o criador da responsabilidade.

Gilbert defende que essa idéia de momentos de transcendência é o exato distanciamento necessário para que o autor não se torne escravo de sua obra e de seu processo criativo, que por vezes perpassa por métodos inexplicáveis. Os bloqueios criativos, por exemplo, pavor de autores, “nunca perguntaram ao meu pai se ele tinha algum bloqueio criativo em seu trabalho com engenharia química”, é o medo que acompanha as atividades criativas.

A lista de artistas que perdemos precocemente é imensa, passando pelas brasileiras Elis Regina e Cássia Eller, que tiveram o mesmo triste fim de Amy, pelo rei do pop Michael Jackson, enfraquecido após anos de uma vida atormentada. É uma questão a se pensar, se os dons são bênçãos ou fardos que a pessoa carregará por toda existência e até que ponto o sucesso dela deve reger o resto da vida. A triste conclusão é que esses artistas quando não morreram pelas próprias mãos, foram derrotados por seus dons, fica a questão.

E se eu gritasse, entenderia?

“É uma dor que precisamos entender em voz alta”. Verdade incontestável, no meu caso eu preciso não só exercitar minha oralidade, mas desenhar palavras no papel que possam reorganizar minhas idéias. Ainda não aprendi a parar de procurar explicações, preciso entender os acontecimentos e simplesmente não compreendo quando elas fogem das linhas lógicas.

O tema é mais do que batido. Não quero passar linhas e linhas falando das diferenças entre homens e mulheres e suas reações frente à potenciais novos relacionamentos, até porque acredito que nada que eu escreva caracterizará um novo fato ou uma nova explicação que vá solucionar os problemas.

Já usei palavras de muita gente na tentativa de explicar os insucessos dos meus relacionamentos. Assim como já li todos esses artigos que falam sobre mulheres independentes. Já passei horas deliberando com mulheres com a exata mesma reclamação. O fim é sempre o mesmo, não se chega a nenhuma conclusão.

“Sim, eu vou embora, mas nada de se magoar”. A letra da música é fantástica, só esquece de contar como isso é possível. Como eu vou embora ou deixo o outro ir sem a sensação de que mais uma história acabou sem o final feliz que os contos de fada prometiam? Sabe aquelas histórias do pegador que virou bom moço pela mocinha e foram felizes para sempre? Então, essas não são pra mim.

Começo a achar que os homens não deixam as mulheres, eles me deixam. Deve ter algum componente genético ou comportamental, ou eu sou boa demais ou ruim demais. Sem dramas, sem lágrimas, é a única conclusão possível. Porque eu não engulo essa de “eles não gostam de mulheres independentes demais” ou “mulheres inteligentes assustam os homens”, para mim são as desculpas que a gente mesmo se dá.

Não me enquadro em nenhuma das descrições clichês de comportamentos femininos, não sou grudenta, não sou ciumenta, não dou barracos ou faço cenas de extrema carência em público. Não tenho problemas de auto-estima, gosto de futebol, acho cerveja uma prerrogativa masculina. Sempre passei com louvor nos testes “como conquistar seu gatinho” da Capricho e mesmo assim não ando tendo casos de sucesso para contar por aí.

Assisti um namoro ruir, vi cada pedaço se desfazer no ar quando eu estava absolutamente de mãos atadas, nada pude fazer, não era eu, era ele. “É uma dor que precisamos entender em voz alta”, mas mesmo gritando aos quatro ventos corro o sério risco de simplesmente nunca entender. Continuo gastando toda a minha escrita, grito a plenos pulmões, mas a inquietude do “por que?” não se vai. Aceito explicações, atenciosamente.

Mito da criação das vozes

No princípio era o silêncio. Nada se escutava, nada produzia som. Quando Deus em sua infinita grandiosidade vagava pela escuridão profunda de um mundo ainda por fazer. E numa mistura de luz e energia o mundo foi criado e Deus colocou as mais diversas criaturas no paraíso recém formado pelo encontro harmonioso de elementos.

E veio o primeiro homem, Athos. Forte, viril e perfeito em sua criação, mas solitário. E Deus viu que era hora de criar a mulher, Isa, sensível, meticulosa e absolutamente perfeita em sua criação. Isa passeava ao sabor do vento, dedicava seus dias ao ouvir os sons que a natureza lhe concedia, não entendia o silêncio, não compreendia porque não era capaz de emitir canções como as que ouvia em suas andanças.

Um dia, o entardecer, quando o sol já se despedia com os últimos raios de luz, Isa ouviu a mais bela canção irromper por entre as árvores. Jamais escutara som tão hipnotizante, ficou ali, parada, sem conseguir identificar de onde vinha tão bela voz. Olhou ao redor, mas não pode ver quem seria capaz de produzir as notas tão afinadas.

No dia seguinte Isa foi ao local, escutou a mesma canção e mais uma vez não conseguiu identificar o cantor. Ao terceiro dia, Isa decidiu se esconder por detrás das folhagens e ali ficou até voltar a escutar a voz. E pela primeira vez conseguiu ver camuflado entre as folhagens um pequeno ser de olhos expressivos, grandes e pretos, e uma plumagem castanho avermelhado que a plenos pulmões entoava notas que Isa jamais tinha escutado. Era um Rouxinol, o cantor noturno da floresta.

Isa se apaixonou por aquele ser oculto e misterioso no instante que o viu. O pássaro que preferia o anoitecer ao amanhecer encantou a jovem. Todos os dias ia na mesma hora e no mesmo local encontrar o belo pássaro. Aos poucos o Rouxinol passou a confiar na mulher e se aproximar mais. Isa continuava a se martirizar por não poder emitir notas como as daquele tão pequenino ser, o rouxinol prometeu que ainda lhe daria o segredo.

Com o passar do tempo Athos começou a sentir falta de sua companheira, que dedicava muitas horas do dia na companhia do Rouxinol. A solidão lhe causava ira, não compreendia os sumiços de Isa, que lhe ocultara o motivo real de seus passeios. Um dia decidiu segui-la em sua andança ao fim da tarde, descobriu o pássaro e ficou enciumado da relação dos dois.

Athos consumido de ciume e raiva decidiu que aquela voz seria dele, não poderia pertencer a um ser tão pequeno e insignificante. Assim Isa não mais se agradaria da companhia do Rouxinol e voltaria a se encantar com as horas passadas ao lado de Athos.

Athos preparou então uma armadilha ao pássaro. No dia seguinte, um pouco antes do horário do encontro com Isa, o homem se escondeu por entre as folhagens. Ele sabia que Isa se atrasaria para o encontro, tinha se incumbido de desviar a atenção da mulher com novas frutas que encontrara no dia anterior. Quando o Rouxinol apareceu a procura de Isa, Athos avançou para cima dele em um sobressalto e o aprisionou. O pássaro soltou um grunhido alto que toda a floresta ouviu, Isa se assustou e correu na direção do encontro.

O homem prometeu matar Isa caso o Rouxinol não lhe desse sua a voz. Disse que a mulher já entraria no local e assim que chegasse seria flechada com o mais cruel e mortífero veneno. O pássaro assutado e tentando prometer sua amada prometeu a voz ao homem, suplicou que não matasse Isa.

Antes que o Rouxinol pudesse transferir sua voz para Athos, Isa chegou e vendo o amado aprisionado e os olhos furiosos de Athos ficou petrificada. Desesperada, ela avançou sobre Athos e um descuido acabou soltando o pássaro, ainda mais furioso ele aprisiona Isa e promete por sua própria vida que irá matá-la se não puder ser dono da bela voz. O rouxinol em desespero voa de volta para Athos. Isa suplica por sua vida e de seu amado, mas Athos é irredutível.

E nesse mesmo momento, momo uma estrela, o Rouxinol fica cheio de luz, de seus olhos negros saltam fagulhas de energia. Iluminada como o sol, ele se aproxima de Athos e pousa em sua cabeça, começam a sair os mais belos sons ouvidos e feixes de luz que vão iluminando o homem. Isa se desespera, ela sabe que seu amado não suportará tamanho esforço, com esforço ela consegue derrubar Athos.

A transferência estava quase no fim, não há mais reversão, em um ato de declaração de amor o Rouxinol passa os poucos sons restantes pousando na cabeça de Isa. Assim, ela recebe os últimos tons, mais agudos e os trinados mais belos da terra. O pássaro fraco e sem voz desfalece nas mão de Isa, que lamenta em canção o sofrimento do amado.

Athos se recupera do tombo e flecha seu objeto de inveja. O rouxinol está morto. Isa faz um registro agudo do sofrimento sentido, enquanto Athos canta grave a inveja do amor de Isa pelo rouxinol. Isa passaria todas as tardes de sua vida em canções de lamento pela morte do Roxinol que tanto amou. As mais belas canções agora seriam por ela dedicadas à lembrança do amor que lhe fora tirado pela ira e inveja de Athos.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Por favor 12 de junho, uma trégua!!!

- Olá, tudo bem? Ta vendo presente? Posso ajudar?
- To sim, acho que pode!
- Temos várias opções para namorado!
- Moça, é meu primo. Quando a gente era pequeno ele corria atrás de mim com cigarras mortas, a última coisa que quero na vida é ele como namorado.




Pausa para o silêncio. Nessa hora eu não sei se tenho uma crise de riso ou caio no choro compulsivo. Vendedores, mais cuidado, a mulherada anda desesperada e deprimida por aí, numa dessas vocês podem provocar mortes- incluindo a sua. Dia dos Namorados mexe com o humor das pessoas, acho que indiferente ninguém passa pela data.
Fui comprar um livro essa semana e a livraria estava toda cor de rosa e cheia de corações. Ah pára, não tem nada de romântico em Teoria da História. Ok, os nerds também amam, mas era uma livraria, li-vra-ri-a. Que desnecessário.

E pros mais azarados, o pessoal da Playboy escreveu:

Joguei “Dia dos Namorados” no Google e apertei “Estou com sorte”. Apareceu: “ta nada”
Momento mágico: um dia ela me disse que me amava e no outro sumiu.
Deus tem um plano para cada um de nós. No meu caso, espero que tenha um B.


Atenção sites de compras coletivas, não estou interessada em flores, reserva em hotel, cesta de café da manhã e nada do gênero. Minha vontade de consumir é inversamente proporcional à quantidade de propagandas que recebo por dia.


E como já disse Martha Medeiros, vamos falar de sacanagem, bem suja, feia e completamente livre de ética. Porque é isso que fizeram com a gente, nos fizeram acreditar em um monte de contos de fadas, relações especiais e perfeitas, acasos fantásticos, quando no mundo real tudo é tão diferente. Acho que vou fazer uma campanha: Pelo fim das idealizações, quero amores cheios de defeitos!


Nem quando eu namorava tive excelentes 12 de junho sempre dava uma zica. Mas não sofro com ele, nem acho uma invenção do capitalismo para nos fazer comprar desenfreadamente. Acho até legal, hoje fui até comprar o presente para a mulher de um amigo de trabalho no lugar dele. Ontem, convenci outro a comprar uma cesta de café da manhã para a esposa.

Por favor 12 de junho eu estou solteira, dá uma trégua! Me larguem corações cor de rosa, eu to bem com o meu coração sozinho! Dia dos namorados mexe com o humor das pessoas, acho que indiferente ninguém passa pela data, nem eu.

Procuro

Quando sinto que estou encarnando o papel da coitadinha é que mais tenho vontade de sair gritando por aí. Não me dou bem com a personagem, não suporto a idéia de agente passivo. Também não acredito em carma, não sento e fico esperando meu destino traçado por alguma força invisível.

Minha gangorra hormonal me concede gentilmente todo mês uma condição de absoluta fragilidade, são dias em que procuro fugir dos meus pensamento apocalípticos, porque se deixar, começo a mergulhar numa sensação de tristeza sem fim. Acredito ser a mais feia, mais burra, mais infeliz e por aí a lista segue.

Procuro não devotar minha felicidade a ninguém. Procuro ser responsável pelas minhas escolhas e dona do meu destino. Não acredito em nada que chega sem esforço. Escutei uma frase que talvez sintetize o ideal de vida. “Senhor, dai-me coragem para mudar o que pode ser mudado. Resignação para aceitar o que não pode ser mudado. E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”. São Francisco de Assim, Amém.

Não sou sua "quase"

Tenho horror ao “morno”, tenho medo de comodidade, de meios amores. Meu problema é amar muitas coisas e por vezes me perder nelas, não consigo descobrir a minha grande paixão. Exijo demais de mim, aprendi – ou ainda tento aprender – a pedir menos das pessoas. Ainda me decepciono com elas. Tive bons relacionamentos, outros nem tão bons assim

Me desespero quando me sinto estagnada, não quero parar. Quando paro percebo os sonhos que deixei passar e os prazos do plano de metas se alargando. Por favor, me acompanha. Só sei andar quando tenho mil coisas o tempo todo para fazer.

“Não suporto meios termos.
Por isso não me dôo pela metade.
Não sou sua meio amiga nem seu quase amor.
Ou sou tudo ou sou nada” Clarice Lispector

1º de Maio, não sei porque me distraio...


Depois de um abandono situacional do blog, tento me restabelecer e voltar a escrever. Ao poucos, com passos lentos, como uma criança que aprende a traçar as primeiras letras. Procuro temas, revisito fatos, faço uso da memória. Me pergunto porque passei um mês tão absorta que nem redigir idéias eu consegui.

Foi um mês extenso, sem feriados, sem pausas, sem tempo de pensar no tempo. Acho que preferi me inebriar nos afazeres e deixar seguir, quase me aproveitando da inércia. Foram muitos acontecimentos, alguns bons, outros nem tão bons assim. Continuo perseguindo meu sucesso acadêmico e me desesperando nessa busca.

Esse mês, pensei em “quanto”. Quantos insucessos são necessários para se atingir a estabilidade? Devoção e compreensão podem não ser bons aliados como eu imaginei que fossem. Reciprocidade talvez seja minha palavra chave. E pensei em “quando”. Quando sabemos que fizemos a escolha certa? Quando seu trabalho passa a exigir o mínimo de atividade intelectual e se transforma no mais absoluto exercício monótono.

Um mês extenso, muito a fazer e uma sensação de dias com horas insuficientes. Assim passei os 31 dias de Maio. Mês das noivas, mês das mães, para mim foi o mês do sufoco, mesmo sabendo que junho promete muito mais. Perdoem-me o abandono, mas naquela hora era preciso parar.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Consciência é para poucos...

Retorno às minhas memórias e tento encontrar explicações, com uma certa freqüência ela me trai, os acontecimentos se confundem. Mas não dessa vez, não estamos falando de um passado longínquo, consigo ainda efetuar uma cronologia de fatos e mesmo assim não consigo compreender. Por que preciso passar mais uma vez por tal situação?

Sou altamente falha, meus defeitos me fazem – com mais freqüência do que eu gostaria – formar opiniões fechadas. Não costumo errar sobre pessoas, para mim são ruins até que provem o contrário. Não sou vítima da minha inocência, não sou fraca e indefesa, aprendi que só eu posso me defender. Prefiro verdades inconvenientes a falsidades sociais.

Já fui traída algumas vezes. Preocupação e dedicação nunca foram suficientes para terceiros. Não confio em muito mais pessoas do que posso contar nos dedos de uma mão. Acredito em racionalidade, não gosto de inseguranças, detesto vítimas. Acho que sou melhor do que aquilo que desprezo, não faço com os outros o que não quero que façam comigo, apesar de por vezes ser atingida pelo “outros”.

Ouço coisas que não gostaria, é o preço que se paga por falar demais e ser atrevida demais. Questiono meu egoísmo, será que minha visão de realidade é tão deturpada? Recorro às teorias, nem mesmo assim surgem respostas. Não consigo chegar à psicologia, confesso minha incapacidade. Não acredito em lei da compensação. Não encontro explicação, prefiro não me abalar (ou tentar). Me afasto. E minha memória insiste em me lembrar.

domingo, 10 de abril de 2011

Escola Tarso Genro - 07 abril de 2011

“A estupidez humana ultrapassou todos os limites. Mandar seu filho para a escola em uma manhã de quinta-feira e receber um cadáver de volta é de uma estupidez sem tamanho”. Assim, um dos professores que mais admiro na Universidade descreveu a tragédia da última semana no Rio de Janeiro. Não consigo mensurar a dor de uma mãe, mas acredito que jamais se cura a alma da perda de um filho. Não moro no Rio, não conheço nenhum dos estudantes daquela escola, mas chorei como se fosse uma familiar, tamanha barbárie me levou ao desespero ao pensar a que ponto chegamos.

Não é culpa da televisão, da internet, dos Estados Unidos ou do videogame. A loucura acompanha a história da humanidade ao longo do tempo, ela só vem sendo potencializada na medida em que a crueldade humana ultrapassa novas barreiras. Acredito que não há explicação, nada justifica uma chacina de crianças. Pouco interessa se o perfil era introspecção, esquizofrenia, psicopatia, sociopatia, se sofreu bulling, absolutamente nada explica o assassinato de crianças.

Pais cuidem de seus filhos, atenção. Estado, cuide de seus pequenos cidadãos. Pouco se falou em assistência psicológica para os estudantes, a cena que eles presenciaram na escola tem muito soldado que não assiste nem em guerra. Me pergunto em como será a volta às aulas dessas crianças, como elas se sentirão seguras no ambiente escolar de novo. Espero que possamos mostrar que não mais acontecerá e a escola é sim palco da grande magia do conhecimento e esperança de um excelente futuro.

Não há como falar na sucessão de erros, na exposição das crianças, mas era uma operação sem precedentes. Ainda bem que o policial acertou o tiro, mas poderia ter piorado ainda mais a situação. Os professores foram os grandes heróis do dia. Ouvir de uma menina de menos de 15 anos “ele matou minha amiga”, ou um senhor aos prantos “Eu fiz o que eu pude, mas só quem pode salvar é Deus, elas ainda respiravam, não custa nada ajudar” dói na alma, como se alguém levasse embora nossa esperança.

Só me resta pedir paz, rezar pelas vítimas e suas famílias. Espero ainda que o caso sem precedentes seja único e último, que ninguém ache que tal ação pode ser palco ou degrau para fama. Eu rogo. “Deus, se tiver um tempo, se estiver me ouvindo, diminui a estupidez humana, olha por nós!”

sábado, 26 de março de 2011

Rio...

Deixo um Rio de saudade, de muitas lembranças. Conheço um Rio que é só meu, que não pode ser compartilhado, nem divido, meus pontos turísticos não estão nos guias. Deixo a cidade como quem gostaria de ficar. Mesmo com medo ao ver que por aqui muita coisa é absolutamente diferente do que meus costumes.

Em três semanas vi o cristo de longe todos os dias, lá de cima com os braços abertos para receber quem chega, me protegendo mesmo com a minha displicência de nunca ter ido à seus pés. Por aqui tem um “não-sei-o-quê de qualquer coisa”, que faz a gente se sentir bem, talvez seja o mar, ou a alegria carioca.

Mesmo em um das cidades mais violentas do país descubro que por aqui tudo é possível. Ver como as pessoas são “geração saúde”, gente bonita pela rua, tudo é mais descolado e despreocupado por aqui. Sinto falta do meu carro e do transito organizado, mas assistir o fim da tarde na praia recompensa tudo e faz todo o resto parecer pequeno.

Não me apego ao saudosismo, do Rio da “garota de Ipanema”, gosto do Centro, da confusão, dos museus, de ver novo e velho em um encontro desarmônico, porém absolutamente funcional. Por aqui fui muito mais que turista, lembrei o quanto eu gosto da vida acadêmica. A vida cultural é mais ativa por aqui.

Deixo um Rio com a certeza de quem precisa voltar, de quem ainda tem muito o que resolver por aqui. Mas por hora é hora de voltar para casa, rever a família, colocar os trabalhos em dia e pensar em quando será a hora de matar as saudades da cidade que me conquistou antes que eu pudesse notar. Conheço um Rio que é só meu.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Você abusou...

“mas me perdoe se eu insisto nesse tema...”. Sei que falo exaustivamente sobre, mas é escrevendo que procuro sentido nos acontecimentos. Penso sempre nos meus limites, até onde eu posso ir por um amor? Até que ponto é saudável adaptar-se e em que momento a gente sabe a hora de partir. Lembro da personagem Heloísa da novela Mulheres Apaixonadas, ela tinha um ciúme que virou doença. Tenho medo de amores doentios em que a pessoa se perde.

Na minha pouca experiência em relacionamentos, vi que sou do tipo que quando gosta vai agüentando, apesar de falar demais sou do tipo “compreensiva”. E é exatamente isso que me preocupa , será que sei aonde se para em cima dessa linha? Mas uma hora o meu limite chega, a paciência não é tão ampla assim, e quando se instala é de vez, não tem volta. Posso amar loucamente, mas descubro que não posso mais, que saturou. “você abusou, tirou partido de mim, abusou...”

Em um determinado momento se descobre que está muito perto do fim. E é esse instante que chega sem avisar, que exige nossa parcela mais forte, mais corajosa, porque é assustador ter que realizar que mesmo completamente apaixonada é hora de partir, porque passou a chorar mais que sorrir. Ver que a balança anda desequilibrada e não há nada que possa fazer.

Dói, como dói, quando você descobre que ele não pode lhe dar o que precisa. Nessa hora surge a berlinda: ou se aceita ele do jeito que é - tendo certeza de que as promessas não serão cumpridas, ele não vai mudar, assim matamos os nossos sonhos e desejos - ou preferimos aceitar que é hora de ir e saímos com um coração bem machucado. É uma dor que maltrata, quando se descobre que ele não ama o suficiente para mudar, para sair da posição egoísta.

“mas não sei fazer poema ou canção que fale de outra coisa que não seja o amor...”. Queria escrever sobre outros temas, mas há muito que não entendo neste terreno, para quem é adepta da simplicidade, ando com muita complicação ao meu redor. “É tão normal ter desamor ... Se o quadradismo dos meus versos vão de encontro aos intelectos que não usam o coração como expressão. Você abusou...”

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pais...

Sempre penso em uma frase que li há um tempo já, que dizia “todos nos preocupamos com o mundo que vamos deixar para os nossos filhos, mas que filhos deixaremos para o mundo?”. Não sei se com essas exatas palavras, mas alguém expressou muito bem a minha preocupação com a futura geração. Tenho muito medo de ter filhos, por achar que a tarefa de educar uma criatura exige uma sabedoria que acho que não possuo.

Não sou nenhuma perita em educação, mas sou a primeira neta de uma família de nove, sendo que eu tenho 24 anos e a minha prima “mais velha” tem 15 e a mais nova 3 anos. Acreditem, conheço todas as fases infantis e já assisti cada cena de deixar qualquer psicopedagogo de cabelo em pé. Freqüentemente assisto pais querendo ser “bonzinhos” com os filhos e tendo medo de dizer “não”. As pessoas não querem ser chatas, mas pais não têm que ser legais, pra isso servem os amigos, genitores precisam ser chatos e bem chatos.

Pais servem para dizer não e impor limites, até porque a nossa função na vida enquanto criança e adolescente é testá-los até a última gota. Até os 15 anos a nossa principal função é odiar pai e mãe e achar – ou ter certeza - que eles não sabem de nada. Mas se os limites e o diálogo não são feitos em casa, começam os problemas. Os filhos vão pra mundo, e aí será que foram bem preparados?

“Não queria que meu filho virasse vagabundo, mas quando ele tinha 17 anos dei um carro zero para ele, mesmo ele estando ainda no 1º ano do ensino médio”. Ou ainda “Queria que ele levasse a vida mais a sério, mas paguei supletivo para que ele passasse de ano e fosse à praia com os amiguinhos”. Até quando as pessoas vão continuar enchendo os filhos de presentes para suprir falhas? Famoso chorou, ganhou. E a meritocracia? Aquilo que nos ensina a não nos contentar com mínimo e a trabalhar para receber ganhos. E os valores?

Por outro lado temos o excessivamente controladores. Aqueles que regulam televisão, computador, hora disso, hora daquilo, a roupa, a comida, o lazer, absolutamente tudo da vida da criança, ou de alguns nem tão crianças assim. O que também não ajuda, porque a porta do dialogo é fechada a todo custo e a criatura levada a uma síndrome de Peter pan. Não deixar as crianças assistirem jornal, novelas e afins não vai protegê-los de nada do mundo real, mas uma boa conversa e formação de caráter vai.

Outro dia no aeroporto escutei uma mãe falar para filha “meu consolo é que um dia você vai ser mãe e vai sofrer como eu”, quantas e quantas vezes ouvi isso da minha mãe, penso se um dia vou repetir a frase. Ainda tenho medo de não ter capacidade de educar, para mim, maternidade é a maior responsabilidade que alguém pode ter na vida. Quem sabe um dia vou repetir todas as frases de mamãe...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Não tem que ser assim...

Ela sabia. Podia se magoar, era melhor não arriscar. Vê-lo poderia trazer de volta tudo que ela insistia em guardar escondido no fundo do armário. Precisava aprender a ser só, a andar por ela, mesmo sabendo que o lugar era tão dele. De repente, doía muito mais do que ela imaginava.

Ficou difícil discernir entre encontrar ou ignorar, era muito difícil pensar em não vê-lo. E o encontro veio como uma chuva de verão, forte, tempestiva, dessas que demora a passar e quando vai deixa um monte de água espalhada. Era muito maior do que ela podia suportar, ela descobriu que tudo era mais intenso do que imaginava, aquilo que estava guardado ainda ocupava muito espaço. Chorou.

Ainda preferia acreditar que poderiam ser eles, em algum momento perdido no espaço, em algum tempo guardado para eles. Parou de entendê-lo. Sentiu-se só. O conforto que a companhia dele trazia não mais poderia ser dela, ele preferiu assim. Perdeu o controle, não conseguia entender tamanha complicação, ainda havia tanto sentimento. Sofreu. Agora deixaria o tempo tentar curá-la.

“... Não tem que ser assim
Tanto desencontro, mágoa e dor
Pra que que a gente tem que Se arriscar
Então volta pra mim

Deixa o tempo curar
Esse estranho jeito de amar....”

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

May be a mess...

“Escreve um texto pra mim? Conta como eu estou carente, deprimida e nostálgica”. Uma das garotas mais independentes que conheço estava ali completamente vulnerável. Ela era difícil e inconstante, a fórmula dela não é para qualquer um, não há lógica no mundo que explique. Não gruda, mas também não desgruda. Me larga, mas não me solta...

Se por ora ela quer romance, em outra prefere não te ver. Se por um tempo pensa na calmaria de uma casa com cerca branca na outra prefere pubs lotados e barulhentos. Quando ata, ela desata, não procura nem acha. Ama e odeia em um espaço de tempo tão curto que nem mesmo ela consegue lembrar.


Não ter ciúme, mas uma necessidade absoluta de ser prioridade pode enlouquecer uma cabeça, mesmo a mais ajuizada. Não procura clichês, prefere as metáforas. “Sou capricorniana, preciso de atenção”. Não é passional, tão pouco racional, ela é só ela na mais absoluta contradição de ser. Ela é guerra e paz, mas ainda espera um certo príncipe. “Quem sabe combina da gente combinar...”

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Só queria simplicidade...

Não queria muito, só queria um pouco de diversão. Não ando pensando em compromisso, na verdade ando tentando não pensar em nada, ainda tenho uma ferida aberta. Mas você se negou, resolveu complicar a situação. Eu só pedi simplicidade, uma pena.

Homens com atitude rocks! Aqueles que são bons e sabem disso. Que encostam e deixam tonta, que sabem falar a coisa certa na hora certa, a hora de chegar e a hora de partir. Agora esse negócio de ter que se virar em mil para chamar a atenção do cidadão e o cara que te olha anoite inteira e no fim nada, que preguiça.

E ainda temos a lista de gafes. “Meu amigo quer te conhecer” é o fim. O fim dos tempos o fim do futebol, é o fim do planeta. A vontade é responder: “e o que me faria querer conhecer seu amigo?” ou matar logo de vez “não quero conhecer seu amigo, quero conhecer você”, já vi isso acontecer e o cara saiu torto. Mandar recado só é aceitável até o fim do ensino fundamental, depois não.

Sério, a mulherada nem anda exigindo muito por aí, mas o mínimo é a criatura ter atitude na abordagem. Ser criativo, ser engraçado costuma funcionar também. Se encher de si e só falar de você não dá certo, não to ligando pra quantos carros você tem ou quantas viagens ao exterior já fez, acredite eu sou muito melhor que isso.

Para mim ia ser tão simples, eu estava muito mais fácil do que você imaginava. Não sei o que pensa à meu respeito, mas tenho certeza que facilitaria se simplesmente perguntasse. Você e os seus impedimentos, desculpe não quero resolver seus problemas. Só queria um caso simples. Uma pena.

Trabalho Voluntário

Trabalho: Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim. Voluntário: Que age espontaneamente. Derivado da vontade própria; em que não há coação; espontâneo. Trabalho Voluntário no fim das contas é trabalhar por carinho, é pagar para trabalhar. É procurar problema, é ter que resolver coisas que nunca imaginou, como uma caixa d'água afundando no meio de uma festa para 500 crianças e outras peripécias. Mas é também uma das experiências mais gratificantes que se pode ter na vida.

O Brasil é considerado hoje o país mais solidário do mundo. Uma pesquisa revela que 70 % da população faz ou já fez algum tipo de ação beneficente. Talvez a nossa descrença no poder de ação governo explique essa média. A ineficiência do Estado faz com que a população acredite que ela só pode contar com ela mesmo. E são vários exemplos de ações comunitárias que entram para suprir a ausência do Estado.

Pensar em trabalho voluntário leva a algumas reflexões importantes, como qual é o melhor formato para as ações. É necessário rever conceitos da sociologia e da antropologia, como identidade e pertencimento, que se tornam essenciais para entender que ao entrar em um grupo as ações precisam ser construídas em conjunto, a necessidade do outro não é obrigatoriamente o que você acredita que é.


O trabalho do Exército no Haiti e as UPPs cariocas são exemplos clássicos de que a gestão precisa ser participativa. Ouvi de um coronel que foi oficial de comunicação no Haiti que a participação da população era fundamental, sem ela o trabalho tornava-se inviável. “É como alguém entrar na sua casa e querer mandar na organização dela, não funciona”. As tentativas de reimplantar o Estado nas comunidades é válida, mas é um projeto temporário, e no futuro? Mais uma questão a se pensar.

No fim, trabalho voluntário é a responsabilidade de um evento com a maior divulgação que você já conseguiu na vida. Aplicar o que você estudou com o que você nem faz idéia. Se arriscar morrendo de medo. Perder noite de sono, ficar com febre, sonhar (ou ter pesadelo) com todas as falhas possíveis, fazer listas e mais listas e ter certeza que inevitavelmente vai faltar algo na hora pro seu absoluto desespero. Mas também é aprender a confiar em uma equipe e ter certeza que no fim da certo porque a causa é muito maior.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tenho sentido falta....

Tenho sentido falta dos teus olhos. Acho que te vi pouco. Acho até que aproveitei pouco do que o teu olhar representava. Me lembro de quando te vi pela primeira vez e também da última vez que te olhei, na esperança de encontrar ali uma resposta para o que eu sentia.

Tenho uma saudade de dar nó em garganta, de fazer perder o fôlego. Sinto falta do intangível, do invisível aos olhos. Há tempos não me olham como você e me forço a acreditar que irá acontecer de novo, pois me sufoca pensar em “nunca mais”.

Ainda te procuro pelos lugares. Ainda posso sentir teus olhos me guiando de longe, por detrás da coxia. Tenho sentindo falta deles, da confiança que eles tinham em mim. Teu olhar costumava me acalmar, era a paz, a mais perfeita companhia. Se “o essencial é invisível aos olhos” eu o via nos seus.

Tenho sentido falta dos teus olhos. Tenho sentido falta dos teus olhos em mim.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Seleção Natural

Um dos melhores professores que tive na vida gostava de dizer que “judeu burro morre no parto”, sentença que a história do povo confere veracidade, inteligência foi meio de sobrevivência deles. Mas eu acabei adaptando a frase de acordo com a minha intolerância, e a versão atual é: “Gente burra devia morrer no parto!”.

Tudo bem to mal-humorada, trabalhar em um banco no dia 10 de cada mês faz isso com as pessoas, mas é porque é impressionante como as pessoas não facilitam a própria vida, preferem dar trabalho a pensar. E não me venham falar de preconceito porque não estou falando de pessoas com baixa formação escolar ou economicamente desprovidas.

Qual a coisa mais básica que se leva quando se vai andar de patins? Sim, os patins. Isso é o básico que as pessoas são incapazes de levar pra maldita fila do caixa. Vou começar a dar respostas como “desculpe Senhor a bola de cristal pifou hoje” ou ainda “Com a lua em Marte e o sol em Vênus há grandes possibilidades deu saber o número da sua conta”. Vai que cola!

A preguiça de pensar deve atrofiar as pessoas. Não se admira que os bancos judeus fizeram história pelo mundo. Ano novo e impressões antigas ainda, triste. Oh saudade da seleção natural...