sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Quantos minutos mais???

Um, dois, três, quatro....120. Só essa contagem, alguns segundos e enquanto eu conto e mal consigo pensar em o que é possível fazer em tão pouco tempo mulheres são covardemente agredidas por todo o país. A cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil. A pesquisa é da Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC. Um problema grave que as políticas públicas ainda estão longe de sanar.
 
Segundo a DataSenado, 32% das mulheres que sofrem violência permanecem convivendo com os agressores. Os motivos são vários, dentre eles, o medo, a dependência econômica e a pior delas a dependência emocional, em que a mulher ainda acredita na regeneração do algoz. A doutora em direito penal Alice Bianchini alerta.”É necessário que o magistrado que analise o pedido de decretação de medidas protetivas com urgência, a fim de se evitar o constrangimento e, principalmente, diminuir a situação de perigo a que a mulher agredida está exposta, por conta da decisão de buscar romper com o ciclo de violência”. Atualmente, o Brasil dispõe apenas de 71 Casas-abrigo para mulheres em situação de violência doméstica.

No último mês, passei duas semanas fora e quando voltei as notícias eram de uma estudante aqui de Brasília assassinada por um professor universitário infeliz com a separação do casal e de uma moça de Natal que teve o braço quebrado em uma boate porque rejeitou uma criatura. E um dos comentários na notícia da boate no site da Globo era de um homem, o sujeito escreveu: “Quem procura acha, se tivesse ficado em casa quieta não teria passado por essa”. Que espécie de homem é esse? Me faz pensar que ele apenas verbalizou o que muitos pensaram o que é mais triste ainda.

No último sábado eu presenciei duas tentativas de agressões contra mulheres em um show e observei como essa violência é arregimentada e naturalizada pelos participantes. Quando foi necessário um agente externo para impedir o agressor de finalizar o chute que direcionava a uma menina. O agressor da moça de Natal alegou que o braço teria “se quebrado no chão”, mas ele saiu imediatamente da boate após agredir Rhanna, no minimo incoerente eu diria. O rapaz falou ainda que a moça teria jogado bebida nele. Em que mundo um copo de bebida justifica um braço quebrado? A culpa não pode ser transferida para o agredido em hipótese alguma, simplesmente porque na minha cabeça violência é algo injustificável.

Me chamou à atenção o desabafo do pai de Rhanna."Você cria, né? Educa. Você investe, você procura proteger. Quando você vê, um qualquer um, uma pessoa desqualificada, um covarde chega e consegue atingir a integridade física. Eu não estava lá pra presenciar. Me senti impotente. Perplexo, mas impontente". Nenhum pai coloca uma filha do mundo para ser agredida. 

Penso na responsabilidade dos pais nesse problema. Assisti uma palestra do ator Tony Porter sobre o peso social de ser homem, o que ele chama de “man box”, em que meninos precisam ser fortes, corajosos, dominantes, sem dor, sem emoções e “definitivamente sem medo”. Porter convida para um processo de de desconstrução e redifinição dessa conceituação de masculinidade utilizando um dos exemplos mais bonitos que poderia usar: “Gostaria de dizer, que esta é o amor da minha vida, minha filha Jay. O mundo que eu vejo para ela, como vou querer que os homens ajam? Preciso de você nessa. Preciso de você comigo. Que trabalhe comigo e eu trabalhe com você em como criamos nossos filhos os ensinando a serem homens, que está bem não ser dominante, que está bem ter sentimentos e emoções, que está bem promover igualdad, que está bem ter mulheres que são só amigas, que está bem ser íntegro, que minha liberdade como homem está presa a sua liberdade como mulher.” 

O apelo não é só aos homens, mas às mulheres também. Se temos homens machistas é porque temos mães machistas, eles simplesmente não aprenderam em casa como respeitar uma mulher. Não acredito que exista solução para uma criatura que agride uma mulher, merece prisão e sem direito à negociações, mas me junto ao chamado de Tony Porter e acredito que são os pais os principais agentes modificadores das próximas gerações, acredito que podemos criar homens melhores. Quantos minutos mais levaremos para resolver a questão?