segunda-feira, 8 de agosto de 2011

E ela soube o que queria...

Ela descobriu cedo o que queria. Precisava conhecer o mundo, desvendar cada segredo. Preferia o incômodo de verdades explicadas ao conforto da felicidade ignorante. Era divertido ser diferente, esperar muito mais da vida que lhe fora concedida. Ela era curiosa, sabia do risco, mas também compartilhava as delícias de todas as aventuras das descobertas.


Aos poucos ela descobriu como seria doloroso procurar justificativas no que ela não podia controlar. Era mais simples sair sem olhar para trás, mesmo enfrentando a dor. Demorou para entender que nem tudo acontecia como ela imaginava. Algumas certezas não são suficiente e a eternidade por vezes pode ser só um instante. O tempo já não era tão amigável quanto antes.


Ela conheceu o poder do acalanto de um abraço, da doçura de um beijo e de uma palavra certa no momento certo. Escutou segredos sussurrados no escuro do quarto e as confidências feitas só entre quatro paredes. Sentiu a leveza de um toque e a intensidade de uma carícia. Ela aprendeu a amar


Ela foi machucada. Chorou. Algumas feridas ela simplesmente entendeu que jamais se fechariam por mais que ela se esforçasse com todo coração. A invencibilidade já não era característica tão latente e o medo crescia mais do que ela gostaria. Por mais doloroso que parecesse, as cicatrizes a seguiriam por toda a vida. Ela cresceu.


Sentiu saudade. Quis voltar, procurar o tempo da simplicidade. Encontrar o ponto perdido dos sonhos que enchiam a alma. Os desejos tinham se transformado, ela sorriu, entendeu que não se anda para trás. Ela descobriu cedo o que queria, ela sempre soube o que queria. Seguiu.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Brincadeira tem hora...

Depois do acontecido do último domingo e a impressão de que sair em Brasília vai se tornar impossível qualquer dia desses, pensei em uma questão que me incomoda há um tempo. Foi com uma brincadeira que mataram um índio queimado há alguns anos. E foi também com uma brincadeira que espancaram uma empregada doméstica em um ponto de ônibus. E foi só uma brincadeira?


Absolutamente nada justifica violência, muito menos o excesso dela, espancar alguém torna qualquer motivo torpe, mas “foi só uma brincadeira” também não é justificativa. A melhor fase que escutei sobre o caso foi: “Não sei o que é mais ridículo "brincar" de pular o portão sem pagar a conta ou espancar alguém por ter feito isso”.


No caso do Calaf, chama à atenção pelo histórico tranqüilo da casa. Durante o dia, as pessoas se assustaram, “mas logo o Calaf?”. No facebook, foram vários comentários sobre o acontecido, incluindo o início de uma mobilização. “Se você também está cansado dessas ocorrências e não pretende mais freqüentar lugares onde cidadãos são obrigados a conviver com marginais, copie e cole no seu mural!”. Um exagero eu diria e uma ofensa aos profissionais que fazem segurança.


Já vi algumas confusões no Calaf, assim como em outros lugares, sempre protagonizadas pelo alto grau alcoólico de pessoas que acham que diversão está diretamente ligada à quantidade de cachaça ingerida. Essa idéia de não medir as conseqüências dos atos, seja embriagado ou não, me incomoda profundamente.


Posso ser careta, chata ou protetora da dignidade alheia, não sei, não importa, mas se fosse amigo meu, na exata hora que ele subisse na grade eu puxava de volta e dava um esporro público, como por muito menos já briguei por aí. Posso até estar errada, mas acredito que para pular ele teve platéia e incentivadores.


Brincadeiras são divertidas, mas têm hora e medida certa. Nessa o segurança se excedeu e o sobrou para o brincalhão. Mas e se fosse o contrário? E se envolvesse mais gente? Se a confusão se alastrasse dentro do bar? Todo mundo sabe que com segurança não se brinca, sabe-se lá se o cara foi bem treinado ou se é só um aglomerado de testosterona.


Agora fica à cargo da polícia punir os responsáveis e aplicar as penas cabíveis. Mas para mim é mais uma prova de que prefiro me arrepender do que eu não fiz, assim conservo minha vida, minha sanidade e a alheia. Porque “foi só uma brincadeira” definitivamente não justifica, explica nem traz nada nem ninguém de volta.