(pausa)
- Tá, eu sei, eu sei, mentira, eu
queria, queria loucamente, queria mais do que beber água!
- Mas olha só, ele sempre vinha,
falava comigo, dava dois daqueles sorrisos de dentes certinhos, duas piscadas e
eu já tava lá mole e entregue. Mas aí quando eu achava que finalmente ia, era
hora do beijo, ele me dava tchau e saia. Minha nossa senhora da frouxisse
também, perdeu um pouco a graça sim.
(pausa)
- Não me olha assim, não gosto
quando faz essa cara de quem já sabe o próximo capítulo. Deixa eu contar em
paz, a história é minha, não me perturba!
- Fui decidida, ou ficava com ele
ou pegava o baile todo. Ainda bem que ele chegou primeiro, minha vocação para
piriguete é quase nula.
- Primeiro eu vi os amigos, equipe
reunida, mas desfalcada, faltava a criatura, só ele. Sim, meu estômago tava
fazendo um desfile de escola de samba com bateria, ala das baianas e uns
trezentos carros alegóricos aqui dentro. E ele chegou, lindinho, cheiroso,
charmoso... como sempre e o desfile da minha barriga virou um baile funk na
velocidade 257 do créu. Não sei porque tanta mulher se reune em volta dele, mas
que inferno, um bando de mosca varejeira. Mas ele sempre se livra delas e chega
em mim. Amo homem educado, muda até meu dia, ele veio me cumprimentou, dois
beijinhos, um abraço e conversou, conversou, conversou, conversou e mais um
pouco e conversou...
(pausa)
- Eu sei, o mocinho é devagar, mas
acho que é porque eu assusto um pouco ele, eu acho, ele deve me achar mega
gata. Não, eu devo ser um pouco grossa? Inteligente demais? Que? Eu que falo
demais? Será? Ah não sei, o que importa é que uma bendita hora ele me tirou pra
dançar e eu agradeci a todos os deuses da paquera e o meu cupido que eu já
xinguei tanto...! Mas ele só dançou e na-da. Não escreveu um livro, não plantou
uma árvore, não fez um filho, na-da.
(pausa)
- Como diz uma amiga minha pegação
é talento, ou o cara tem ou não tem! E nos casos que cara ficou só com o
“lento” do “talento” a gente usa um pouso de dedicação, joga o cabelo, faz um
charme e escreve na testa “eu quero te pegar cacete!”. Uma hora eles entendem.
E esse entendeu, ui como entendeu. Se ele pega bem? Nossa, nossa, ta ali no Top
5. Foi tão lindo, ri com ele a noite toda, dancinha pra la, dancinha pra cá,
mão dada, um fofo, pegou meu telefone, me deixou no carro, fez um convite sacana,
devidamente recusado porque eu não sou dessas, perfeito.
(suspiros e pausa)
- Mas e agora? Por que diabos esse
telefone não toca? Deve ser minha bateria, eu sabia que precisava ter comprado
uma nova. Não? Já sei, é a operadora, sempre me sacaneia e não completa minhas
ligações, não manda minhas mensagens. Vou ligar pra ele, só pra me desculpar,
afinal ele deve estar tentando falar comigo a dias...Não? Melhor não? Ta louca,
eu vou perder o futuro pai dos meus filhos assim, vou ligar sim, me devolve, me
devolve, eu vou ligar, não sou maluca, meu devolve meu celular aqui...me
devolve...
(e sai atras do telefone e FIM)