domingo, 28 de outubro de 2012

Limpo o que não me cabe mais

Limpo meu armário e me despeço de tudo que já nao me cabe mais. Algumas nunca usei, outras usadas à exaustão. Limpo meu armário como se pudesse me livrar de você, te enfiar no fundo de uma gaveta ou colocá-lo na pilha de doação. Tenho vontade de rasgar tudo que usei com você, de me livrar de todas as calcinhas bonitas e andar de pijamas por aí.
Reavalio tudo que vivi, cada escolha, cada detalhe. Revivo toda a história que tinha cara de pra vida toda. Procuro lógica no irreal, faço avaliações psicológicas, se encontrasse o momento do crash pudesse consertar tudo. Silencio. Algumas situações não são para serem entendidas em voz alta, nascem para viverem no silêncio, no intocável, naquilo que vem no fim da noite, que conversa com o travesseiro e insiste em surgir sem comando prévio.
Entro em pânico, recomeçar pode parecer renovador para alguns, mas é absolutamente assustador. Trazer de volta sonhos, crenças e esperanças. Se desarmar de novo, se permitir de novo. Sinto meu estômago congelar. Duvido. Ainda me apego a você. Ainda vai doer. Só não estou pronta para o drama, não para ter raiva de você, não para seguir.
Me falta tempo, me faltam as horas de permitir tirar um recesso da vida e deixar tudo sair do controle. Choro sem querer. Sinto falta. Talvez se pudesse arrumar cada peça dentro do armário abarrotado eu poderia organizar o resto da minha rotina, achar tudo de novo, reorganizar horários, talvez te trouxesse de volta.


Onze anos

Há onze anos eu te perdi. Lembro como se fosse hoje da ligação confusa e dos gritos pela casa, a incerteza da noticia e a incredulidade da situação. Ainda guardo o vazio que você deixou, ainda sinto a dor de não te ter aqui todos os dias. Penso em te contar minhas vitórias, em chorar minhas dores e poder tomar café com você de novo.

Você não estava na minha valsa, nem no fim da escola, tampouco quando segui meio sem querer a sua carreira. Não me viu segurar o canudo com orgulho, nem acompanhou a dolorida segunda graduação. Mas foi minha inspiração a cada passo. Meu extremo orgulho pela sua história, por ser fruto dela e por poder contar a todos com propriedade de neta especial.
Lembro de subir nos seus ombros e fiscalizar a casa, lembro de reclamar do seu ronco alto. Guardo com carinho as idas até a banca de revistas para comprar palavras cruzadas nível fácil, mera estratégia para se livrar dos meus rabiscos na sua dificílima. O sorriso largo, a simpatia natural e a estima em passar horas conversando. Minhas madrugadas sentem a sua falta.
 
Mesmo com a mesa da sala vazia, sem os livros, sem as palavras cruzadas, sem as madrugadas ainda te sinto a cada passo, a cada pedacinho da casa. Nenhum deles te teve como eu tive, ninguém te viveu como eu vivi. Guardo tuas lembranças, e teus livros, com ciúme de um amor que é só meu, que não quer ser compartilhado e que te mantém vivo em mim. Há onze anos eu te perdi e há onze anos ainda está aqui.

Acordo assustada. Lembro de você, faz tanto tempo. Pergunto porque essa lembrança agora, por que logo agora que tudo se complicou? Lembro do trabalho, tenho tanta coisa a fazer. Volto cinco anos quando as expectativas eram outras, quando as possibilidades eram infinitas. Checo no telefone, nada de novo por ali. Email e facebook continuam desinteressantes. Penso no futuro, quantifico o tempo, tento adiantar prazos, me pergunto "quando?". O espelho me afronta, me faz perguntas que eu não quero responder. Você faz falta, mas logo lembro que há muito mais.
Sozinha, sinto que a solidão não me assusta tanto assim, uma enorme vontade de permanecer em mim, de eliminar as interações sociais, de fazer com a cabeça se esvazie.  As horas nao dormidas refletem no rosto marcado, os sonhos repetidos perturbam o sono. O corpo dói no reflexo da mente inquieta. Penso no que fazer, no que decidir. Uma ansiedade incontrolável, um choro incontido e uma aptidão para o isolamento. Silêncio, retidão.
 
Chega a hora de procurar calmaria, de acalmar o coração, de tomar fôlego e mergulhar mais uma vez. De seguir e achar letras novas, melodias mais tranquilas. As esperanças em frangalhos não permitem que me agarre a qualquer ilusão. Continuo sem querer responder perguntas, fugindo das verdades incômodas e tentando fazer do dia um recanto para ficar sem você. Faz tanto tempo e você ainda ocupa um espaço tão seu. Acordo assustada.


Elas, eles e entre eles

Não adianta, eu rodo, rodo e acabo sempre no mesmo tema, “relacionamentos: elas e suas loucuras”. Mas esse veio até a pedidos. Minha experiência nem é lá tão vasta, nem tenho uma linda história de sucesso para compartilhar, mas depois da minha fase de Maria do Bairro Sofredora aprendi algumas coisas. Duas eu selecionaria como mais importantes. A primeira: eu falo o que quero e na hora que quero,  o cara é responsável pelo que provoca em mim, bom ou ruim, falar pode não resolver nada, mas acalma meu coração. A segunda: expectativa é algo feito pra ferrar com a gente e mais nada. 

A maioria esmagadora da mulherada peca pelo excesso de ansiedade. Conhecem o cara e no mesmo dia já estão combinando os sobrenomes, pensando na decoração da casa e escolhendo nome para os filhos. Pronto, jogou a expectativa lá em cima, agora é ladeira abaixo. Sim, porque a não ser que ela viva em uma comédia romântica, a tendencia à decepção é imensamente alta. Se o racíocinio for que ser surpreendida é uma das melhores coisas do relacionamento, criar expectativas é o oposto. Assim, enquanto ela elabora planos futuros, o cara se atrasa 20 munitos, aparece com uma calça horrorosa e sapato feio, pronto, motivo de emputecimento.
Mulher e conspiração são melhores amigas, daquelas inseparáveis. Mulher pensa tanto que não tem tempo de viver. Se ele não liga são 1001 possibilidades imaginadas em frações de segundos, da mais agradável a mais trágica. Se ela ficou de ligar, passa horas pensando no minuto e segundos certos, no alinhamento dos astros, no tom de voz e na escolha minuciosa das palavras para só efetuar a ligação. Tem mensagem de texto que é mais analisada que tratado internacional. E nem os mediadores da ONU são capazes de provar que uma mensagem muitas vezes é só uma mensagem, tem só o sentido literal da coisa.
E eis que surgem as novas mídias. A maior delas: o Facebook . Reino da fuxicagem, pior e melhor amigo dos solteiros. Homens e muheres vão ao delírio com as inúmeras possibilidades do site. Mas eu ainda acho que deveria vir com manual de instruções. O FB é uma vitrine, onde se vê e se é visto e é aí que mora o perigo: o exagero. Colocar foto de biquine a lá “garota do fantástico” pode ser um tiro no pé. Assim como mocinhos com um monte de foto de si mesmo ou momentos constrangedores podem/devem ser banidos. Celular deveria vir bloqueado para ligação internacional e foto do espelho. Além disso, inventaram o “inbox” pra ninguém ter que publicar a paquera para o mundo.
A graça da mídia está no conteúdo. Se a criatura nasceu nos anos 80, um monte de “kkkk”, “hihihihi” e emotions não são considerados um bom diálogo. Uma boa dose de humor sempre cai bem. Atentar para a ortografia também. “Inteligência encobre feiura, mas não há beleza no mundo que encubra burrice”, frase genial de alguém no FB. Iniciar uma conversa com “oi, tudo bem?” corre um grande risco de parar por aí, arrumar assuntos e modificar abordagens podem ser uma boa para chamar atenção, e vamos combinar que no Facebook isso é fácil, o cara já publicou o que gosta, o que faz, o que pensa. Nessa hora que a inteligência vence!
Junto com os sites de relacionamento, apareceram os smartphones, maravilhas tecnológicas (Steve Jobs eu te amo). Os aplicativos de mensagens, o famoso Whatsapp,  são uma das melhores invenções do mundo moderno, li outro dia que estão desbancando o SMS. Mas não precisa ficar olhando se o ser apareceu online a cada dois segundos ou ficar brava porque o “last view” é posterior a sua última mensagem para ele. Que tal pensar que o homem trabalha, dorme, come, malha, dirige e faz coisas normais que pessoas normais fazem e por isso não respondeu. Melhor do que pensar que ele está com outra, te detesta ou qualquer outra ideia perturbada.
Quer ligar? Ligue, mas não precisa ser 257 vezes. Quer sair? Convide, mas na primeira recusa já da pra saber qual o interesse. A estratégia não está nos joguinhos “espero o telefone tocar três vezes antes de atender”, mas em saber com quem está lidando, se pode confiar, se há interesse dos dois lados. Ir aos poucos (aos poucos) criando intimidade, ampliando a comunicação. Emburrar não resolve lá muita coisa, ficar esperando que o ser adivinhe também não. Homens pensam nas ações bem menos que as mulheres  e o investimento é diretamente proporcional ao grau de interesse, então cuidado antes de gastar neurônios por aí com quem não merece. Como ouvi de um amigo, “Relacionamento sério? Isso me lembra pessoas carrancudas, prefiro relacionamentos leves, prefiro felicidade”, talvez seja essa a chave, menos seriedade, menos medo. A pedidos, prefiro ficar por aqui, afinal falo o que quero.