domingo, 13 de julho de 2014

Eu não xingaria, e você???

Depois de assistir o produzido pela TV Folha sobre os ditos “yellow block”, me questionei alguns pontos extremamente conceituais sobre política. Nem entro na discussão dos supostos problemas relatados pelas criaturas do vídeo, sobre a falta de exclusividade ou qualquer outro mi mi mi que tenham dito, até porque segundo o Relatório de Riqueza Global publicado pelo Credit Suisse, os efetivamente ricos brasileiros representam 0,2% da população, não estou mesmo interessada em seus respectivos entraves. Mas uma das perguntas da entrevista era sobre o xingamento da presidente na abertura da Copa no último mês, as respostas foram o reflexo do senso comum de quem leu pouco e formou opiniões nas redes sociais com os replicadores de conteúdo.

A discussão sobre cidadania está muito longe de ser simples, mas há alguns pontos consensuais, um deles é que ela tem como condição de existência a participação popular, se entendermos aqui que cidadania consiste no livre exercício de direitos e deveres de um indivíduo que o possibilitam a participação na vida social. Assim, quando se coloca alguém à margem do processo pelas deficiências educacionais se compromete diretamente o exercício da cidadania. Por isso José Murilo de Carvalho defende que a desigualdade social é a nova escravidão.

E por falar em educação e em liberdade de expressão, chegamos à política, não a dos partidos, mas aquela que fala sobre possibilidades de regimes. No Brasil, somos uma república presidencialista, ou seja, o presidente exerce as funções de chefe de Estado e de Governo. Um Chefe de Estado é o mais alto representante público de um Estado-nação, cujo papel inclui geralmente a personificação da continuidade e legitimidade do Estado e o exercício de poderes, funções e deveres atribuídos ao chefe de Estado pela constituição do país. Ou seja são a personificação do país frente às instituições internacionais. Um Chefe de governo é uma posição ocupada, num sistema parlamentarista/presidencialista de governo, pelo indivíduo que exercerá as funções executivas e/ou a função de chefiar o poder executivo.

Simplificando, Estado é o Brasil, por uma questão de soberania e por vias constitucionais, esse preservamos e respeitamos. Governo, podemos discordar ou concordar, e temos por dever vigiar e questionar sempre. Porém, vivemos em um regime democrático, ou seja quando mais ou menos 56,05% do país vota em alguém, 52 milhões de pessoas, o poder é legítimo e há um pouco de exagero, quando a mostra de um estádio com 70 mil pessoas é entendido como insatisfação do “povo”, numa conta rápida, representam uma fração bem pequena.


Tudo isso poderia ser resumido em simplesmente dizer que mandar alguém “tomar no c*”, não é protesto nem em porta de escola primária. A insatisfação é absolutamente legítima, a forma de protesto foi lamentável. Mostramos ao mundo que o país não respeita - e digo respeita e não apóia, que são coisas diferentes - sua maior autoridade. Sabe aqueles manifestantes que você classifica como baderneiros? Sabe os ladrões que você acha que podem ser amarrados em postes ou linchados? Sabe o que faltou neles? Educação política. Sabe o que faltou naqueles que xingaram a presidente para o mundo todo? A mesma coisa. Só que os 0,003% da população que estava ali frequentou boas escolas, tem acesso a internet, livros, ensino superior e teoricamente deveria saber sobre soberania nacional, democracia, cidadania...