Depois de assistir o produzido pela TV Folha sobre os ditos
“yellow block”, me questionei alguns pontos extremamente conceituais sobre
política. Nem entro na discussão dos supostos problemas relatados pelas
criaturas do vídeo, sobre a falta de exclusividade ou qualquer outro mi mi mi
que tenham dito, até porque segundo o Relatório de Riqueza Global publicado
pelo Credit Suisse, os efetivamente ricos brasileiros representam 0,2% da
população, não estou mesmo interessada em seus respectivos entraves. Mas uma
das perguntas da entrevista era sobre o xingamento da presidente na abertura da
Copa no último mês, as respostas foram o reflexo do senso comum de quem leu
pouco e formou opiniões nas redes sociais com os replicadores de conteúdo.
A discussão sobre cidadania está muito longe de ser simples,
mas há alguns pontos consensuais, um deles é que ela tem como condição de
existência a participação popular, se entendermos aqui que cidadania consiste
no livre exercício de direitos e deveres de um indivíduo que o possibilitam a
participação na vida social. Assim, quando se coloca alguém à margem do
processo pelas deficiências educacionais se compromete diretamente o exercício
da cidadania. Por isso José Murilo de Carvalho defende que a desigualdade
social é a nova escravidão.
E por falar em educação e em liberdade de expressão,
chegamos à política, não a dos partidos, mas aquela que fala sobre
possibilidades de regimes. No Brasil, somos uma república presidencialista, ou
seja, o presidente exerce as funções de chefe de Estado e de Governo. Um Chefe
de Estado é o mais alto representante público de um Estado-nação, cujo
papel inclui geralmente a personificação da continuidade e legitimidade do
Estado e o exercício de poderes, funções e deveres atribuídos ao chefe de
Estado pela constituição do país. Ou seja são a personificação do país frente às
instituições internacionais. Um Chefe de governo é uma posição ocupada,
num sistema parlamentarista/presidencialista de governo, pelo indivíduo que
exercerá as funções executivas e/ou a função de chefiar o poder executivo.
Simplificando, Estado é o Brasil, por uma questão de
soberania e por vias constitucionais, esse preservamos e respeitamos. Governo,
podemos discordar ou concordar, e temos por dever vigiar e questionar sempre.
Porém, vivemos em um regime democrático, ou seja quando mais ou menos 56,05% do
país vota em alguém, 52 milhões de pessoas, o poder é legítimo e há um pouco de
exagero, quando a mostra de um estádio com 70 mil pessoas é entendido como insatisfação
do “povo”, numa conta rápida, representam uma fração bem pequena.
Tudo isso poderia ser resumido em simplesmente dizer que
mandar alguém “tomar no c*”, não é protesto nem em porta de escola primária. A
insatisfação é absolutamente legítima, a forma de protesto foi lamentável.
Mostramos ao mundo que o país não respeita - e digo respeita e não apóia, que
são coisas diferentes - sua maior autoridade. Sabe aqueles manifestantes que
você classifica como baderneiros? Sabe os ladrões que você acha que podem ser
amarrados em postes ou linchados? Sabe o que faltou neles? Educação política.
Sabe o que faltou naqueles que xingaram a presidente para o mundo todo? A mesma
coisa. Só que os 0,003% da população que estava ali frequentou boas escolas,
tem acesso a internet, livros, ensino superior e teoricamente deveria saber
sobre soberania nacional, democracia, cidadania...