segunda-feira, 19 de maio de 2014

Sobre elas, a resignação e eu

Processos identidários são complexos e lentos, envolvem uma série de questões como proximidade, significação, cultura e assimilações. Alguns autores discutem que estamos em meio a uma crise de identidade, é difícil se encontrar. Estudei história cultural por anos para tentar entender exatamente esses constructos sociais. E toda essa teoria se perde quando preciso responder a pergunta semanal: “Quando vai casar?”. Será que ainda preciso legitimar minha identidade em uma figura masculina? E o quanto caminhamos até aqui? Será que o sucesso ou fracasso da minha vida, e da vidas das mulheres, se define pelo casamento?

Não sou contra as casadas, tão pouco levanto bandeiras de “solteirice”, sou filha de um casamento que já dura quase trinta anos e até acredito em relacionamentos longos e felizes. O que me incomoda é essa subversão da ordem, depois de tanto chão percorrido por liberdade, o que importa é casar, seja lá com quem for, manter um relacionamento que nem você acredita, mas casar, fazer o préstimo social. Preciso primeiro de um relacionamento para talvez acreditar que possa existir um casamento, alguém que valha a pena, alguém que possa – e saiba e queira - compartilhar, alguém que possa ser quem o meu pai foi para mim para outro alguém.

Tenho teorias sobre a comunidade casada, ou morrem de inveja das solteiras ou tem medo de perder os maridos para nós. Porque não há outra explicação para a quantidade de vezes que eu escuto essa pergunta por semana. Melhor ainda quando me fazem a pergunta e em seguida começa a sessão reclamação do marido, penso “e querem que eu case?”. Senhoras a expectativa de vida cresceu e não vou morrer aos 50. Não sei nem quem eu sou, o que eu gosto, o que eu quero, minha carreira ainda engatinha e volta e meia me pego pensando se virei mesmo adulta ou ainda estou no meio do caminho. Pode ser que eu descubra tudo isso com alguém, mas também pode ser que não.

Tenho problemas em me identificar nesse esteriotipado mundo feminino, cor-de-rosa e romântico. Sou o filho homem do meu pai, gosto de futebol, corrida de fórmula 1, não tenho medo de barata, troco lâmpadas, gosto de dirigir, sou objetiva. Ele só teve uma filha e acho que precisava de companhia. Também não ajudou muito ter a mãe mais independente e irritantemente objetiva do mundo. Perdi a conta de quantas vezes ouvi que “se demorasse mais um pouco vinha menino”, mas acho que não era mesmo para ser fora da caixa. Não gosto de discursos sexistas, defender mulheres e suas necessidades de subserviência nunca foi uma tarefa simples, na contramão justificar determinadas ações masculinas no famoso “mas ele é homem” também me tiram da razão.


Minha identidade é minha, meu sobrenome eu ganhei e o construí. Já me apaixonei, já sofri, já achei que ia morrer de amor e nasci de novo no dia seguinte. Sinceramente não estou preocupada, posso entrar em um salão sozinha, posso sentar para jantar sozinha, posso viajar, ir ao cinema sozinha, posso gostar muito da minha companhia, mas também posso abrir espaço para outras. Isso não é um problema, não ando atrás de nenhuma solução ou simpatia. “Vó eu já estou arranjada.” 

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Crônica de uma amizade sem data



 Desde quando nos conhecemos? Não sei, acho que desde os 12 anos. Da onde? Não sei, da vida, talvez de outra, nossas histórias se cruzaram infinitas vezes. Compartilhamos muitos amores, o principal deles talvez seja a música, não só por um estilo, mas pelo que representa, pelo que nos faz sentir. Ela tem alma de artista, assim como alguém muito especial me disse que eu tinha uma vez. O apelido nunca foi atoa, se a chamo de "coração" é porque sustenta dentro dela o maior coração do mundo. E se fosse uma palavra só, seria companhia

Aprendi sobre amizade com muitas pessoas, fui, e sou, rodeada sempre de gente muito especial. Ela talvez seja a melhor pessoa que conheço, ela sempre quis abraçar o mundo todo, curar tudo e todos, com a terrível mania de negligenciar a própria saúde e nunca saber dizer não. Se eu sou a parte cética, ela é a pura crença. Chora até em inauguração de supermercado de bairro, mas tem uma força inacreditável quando precisa ter. Uma outra palavra dela: justiça.

Com ela é simples, nas insanidades do dia a dia e nas rotinas sempre tão malucas a gente pode entrar em uma discussão que beira as vias de fato em um minuto e logo depois sair pra tomar café. Passionalidade também pode ser a palavra dela. Simplesmente sei que ela vai estar lá. Vive me devendo um monte de coisa, tem o carro mais bagunçado do mundo e uma capacidade inacreditável de perder,esquecer absolutamente tudo. Sim, eu a conheço bem, mais que isso, ela sabe todas as minhas forças e fraquezas como muita pouca gente sabe. Eu nem mesmo lembro quando ela entrou na minha vida, mas tem um espaço só dela.

Bom nessa vida é ter por perto quem se admira, e eu posso esculhambar ela diversas vezes, ela bem sabe os motivos, mas tenho muito orgulho de ser amiga de alguém que me inspira, que me ensina como se pode acreditar em um mundo melhor, que caridade é sobre querer fazer o bem. Ela está sempre lá, eu estou sempre aqui.  Temos a mesma capacidade, e ansiedade, de nos envolvermos em milhares de coisas ao mesmo tempo, nesse dinamismo louco de quem acredita que precisa usar muito bem o todo tempo que tem. 

E são tantas histórias, concertos e shows, as dores de cotovelo mal-curadas, maracanã lotado, perdidas no metrô de Paris, ligações de madrugada, Sonhar Acordado, sambas, aniversários, até sala de espera de hospital. Impossível listar uma vida toda. Desde quando somos amigas? Acho que desde sempre. Ganhei há bastante tempo a minha melhor companhia e ela veio com o maior coração do mundo. Feliz Aniversário Coração, para você um mundo melhor.