sábado, 5 de setembro de 2015

Meu roteiro

Se meu histórico amoroso fosse virar roteiro seria uma comédia nada romântica. Sem a pegada clichê com final feliz e R&B tocando. Estaria mais para uma comédia rasgada ou um drama daqueles que parece que as peças não se encaixam. Mas nem tudo é ruim, também não viraria filme policial nem estamparia nenhum terror barato. Com certeza o sobe som do final não viria com um joelho no chão e aliança na mão.

Cedo eu tive que aprender que para mim o tempo é outro, tudo só acontece quando tem que acontecer, não adianta tentar apressar nada, porquê qualquer tentativa contrária, em bom carioquês, "dá ruim". Nunca sofri de desespero patológico, mas como toda alma feminina ansiosa, tem horas que a vontade é perguntar qual é a da sacanagem celestial porque parece que a única não-merecedora da coisa sou eu. Já foram tantos cacos para juntar que descrença vira uma certeza habitual.

Meu primeiro beijo veio junto com o primeiro namoradinho, esse foi ponto fora da curva, não tenho lembranças ruins dele, na verdade quem desandou a coisa toda fui eu. Daí pra frente foi ladeira abaixo, deve ter sido nesse ponto que ruiu, castigo talvez. Tudo bem, pouca gente pode contar por aí que foi conhecer o novo namorado da amiga e o novo dela tinha sido seu antigo por um longo tempo, mas ele preferiu não contar, “mas vocês já se conhecem?”, “sim, ela é amiga da minha irmã”. Não exatamente.

Quando era mais nova, o cara ficava comigo e namorava a próxima, criei minha teoria que eu despertava um não sei o que para o enlace, mas eu era muito boa para eles, então preferiam a próxima. Altruísmo puro. Com a idade veio a evolução, namora comigo e casa com a próxima, já casei uns três ou quatro. Mas hoje já temos a classe dos divorciados também, sim eles voltam e te atrapalham de novo.

O segundo namorado foram dois anos de muitos projetos e pouca execução. Tudo se perdeu no mundo das ideias. Nunca me culpei por querer mais. O terceiro foi execução demais e planos de menos, até que o amor da minha vida achou o amor da vida dele. É, a última história daria um filme bem clichê, mas a última cena não seria minha.


Tem gente que não veio para caber no enquadramento, talvez eu seja uma delas. Acabo sempre com os conhecidos, os dodóis, os inseguros, os indecisos, coleciono histórias mal resolvidas. Oferta por aqui nunca foi muito ampla, mas também nunca faltou. Não, eu não sou exigente demais, ou melhor, sou bem exigente sim, afinal não me achei no lixo, mas não é isso que me faz enfrentar salões sozinha. Só não troco minha paz por pouco.

Não nasci para amarras, fujo das convenções e evito rituais. Não, acho que não vou casar, não combina comigo. Por vezes me sinto muito sozinha e sofro um pouco, mas passa, sempre passa. Ser um é sempre uma arte, enfrentar os olhares, os comentários e a certeza das pessoas que podem sugerir na sua vida. Acho que minha vida daria um bom roteiro sim, com uma sequência de tragicomédias, mas desses que a gente acaba rindo no final.

Ainda...

Impressionante como ainda é você. A cada vitória é para você que quero correr. É com você que eu quero compartilhar. Como em cada derrota e é em você que eu quero chorar, a cada problema, como a sua opinião ainda ridiculamente conta

Quero te contar que ainda malho de manhã cedo e aprendi a tomar suplemento. Que ainda me perco nos lugares, mas aprendi a usar o waze. Ainda luto pra parar de tomar refrigerante. Ainda falo "missão" e "deu ruim" e as pessoas acham engraçadinho.
Leio escândalos no jornal e penso em você, em como você tinha opinião sobre tudo. Tenho saudade dos seus pareceres técnicos.

Sim, ainda tem você aqui. Mesmo estando a milhas de distância. A opção sempre foi sua e não minha. Por vezes ainda pego telefone as 6h da manhã, mas não tem nada lá. Sua lembrança está cada vez mais distante, mas sua falta insiste em estar cada vez mais presente.