quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Uma pausa e um café



Em um café me lembro de como gosto da minha solidão, não sendo ilha, não apenas me bastando, mas descubro que a vida é feita também pelos compassos em silêncio. É nas pausas que lembro do meu prazer de ler por ler, de observar. Quando se desliga é que se encontra, adeus celular, por hora não.

Aquela ânsia de café para acordar se vai, não precisa produzir, não estou atrasada, nada é para agora. Aqui sou só eu e o café, a moça que lê concentrada na mesa da minha frente, uma conversa de cariocas acalorados mais na frente. No café pequeno, charmoso e com cheiro de madeira um papel amassado e um lápis encontrado no fundo da bolsa me trazem o prazer de escrever que de vez em quando se perde de mim.

Hoje perdida em uma exposição no centro da cidade vi cartas trocadas entre o maestro e o pintor, era a Rússia do início do século XX, podia-se observar a grafia, os pontos de fuga, de tensão, o desenho das curvas que as letras tomavam e me perguntei se deixaremos algum documento desses para a posteridade. Não os registros de internet, mas pedaços de papel, rabiscados, personificados, desorganizados, exclusivos, sem a homogeneização das fontes digitais. Na era das futilidades, a tríade lápis, papel e café acompanhada por um livro de sociologia da comunicação me fazem pensar que talvez ande na contramão da história.

E quando me sobram palavras e me falta tempo é hora de procurar os compassos por escrever. Na loucura de uma rotina viciada e quase estéril acabo passeando em linhas prontas, de harmonias simples, execuções conhecidas.Pode ser que sejam as férias, a cidade, ou o tempo livre, mas hoje só  mais café e pausas de muitos compassos.