Em um café me lembro de como gosto da minha solidão, não
sendo ilha, não apenas me bastando, mas descubro que a vida é feita também
pelos compassos em silêncio. É nas pausas que lembro do meu prazer de ler por
ler, de observar. Quando se desliga é que se encontra, adeus celular, por hora
não.
Aquela ânsia de café para acordar se vai, não precisa
produzir, não estou atrasada, nada é para agora. Aqui sou só eu e o café, a
moça que lê concentrada na mesa da minha frente, uma conversa de cariocas
acalorados mais na frente. No café pequeno, charmoso e com cheiro de madeira um
papel amassado e um lápis encontrado no fundo da bolsa me trazem o prazer de
escrever que de vez em quando se perde de mim.
Hoje perdida em uma exposição no centro da cidade vi cartas
trocadas entre o maestro e o pintor, era a Rússia do início do século XX,
podia-se observar a grafia, os pontos de fuga, de tensão, o desenho das curvas
que as letras tomavam e me perguntei se deixaremos algum documento desses para
a posteridade. Não os registros de internet, mas pedaços de papel, rabiscados,
personificados, desorganizados, exclusivos, sem a homogeneização das fontes
digitais. Na era das futilidades, a tríade lápis, papel e café acompanhada por
um livro de sociologia da comunicação me fazem pensar que talvez ande na
contramão da história.
E quando me sobram palavras e me falta tempo é hora de
procurar os compassos por escrever. Na loucura de uma rotina viciada e quase estéril acabo passeando em linhas prontas, de harmonias simples, execuções
conhecidas.Pode ser que sejam as férias, a cidade, ou o tempo livre, mas hoje
só mais café e pausas de muitos
compassos.