sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

2016, amadureceu

2016 foi igual a texto difícil de escrever, daqueles que você inventa, olha, detesta, inverte a ordem, reescreve os parágrafos, refaz o lead, risca, amassa e começa de novo pra ver se dá jeito. Aí de repente trava tudo, não sai nada, nem uma mísera linha, pior que do que bicho empacado, mas quando você ta muito perto de desistir algo surge e enche laudas e laudas então você acha “agora vai”, mas estagna de novo. Até que um dia você consegue terminar, não ficou tão bom quanto queria, ou imaginou lá no início, mas relê e vê que também não ficou tão ruim assim.

Foi um ano complicado por aqui, e a contar pelas reclamações generalizadas nas redes sociais muita gente brigou com 2016 também. Reafirmei minha birra dos anos pares, admito que mera superstição, mas que ando preferindo os ímpares eu não nego. Vivi algumas batalhas inglórias, mas também tive vitórias gloriosas, não sou tão ingrata. Me reinventei.

A crise econômica e seus números assombrosos assolaram o país. Assistimos o desemprego crescer, atingir 12 milhões de pessoas. Vimos estabelecimentos tradicionalíssimos da cidade fecharem suas portas e o comércio popular sofrer, Questionamos a competência de nossos gestores. Observamos assustados a desigualdade social, a intolerância, o ódio que mata e muitas tragédias, foi um ano difícil para qualquer coração. Todos perdemos.

Fomos notícia pelo mundo, mas por figurarmos entre os países com esquemas corruptos imensos e intrínsecos a nossa política. Odebrecht seguiu com suas delações e apresentou um buraco sem fundo, para provar o que o José Simão anuncia faz tempo “não tem virgem na zona”. Em ano de impeachment, assistimos uma discursão polarizada que esqueceu que há vários outros tons entre preto e branco, a história não é linear, assim como os interesses também não o são. Desacreditamos.

Mas também foi o ano dos jogos olímpicos brasileiros. Sim, eu sei, desrespeita as desigualdades, “não é prioridade, o legado é mínimo, é extorsiva”, mas que foi linda, ah isso ela foi. O mundo inteiro esteve aqui, conhecemos milhares de histórias inspiradoras, assistimos competições de altíssimo nível, vibramos, choramos e a festa no Rio foi linda. Contrariamos os mais pessimistas, desculpa Irmãos Wright, mas o avião é nosso. Emocionamos.

E lá o ano se vai meio atrapalhado ainda, empacando a fila, parece não querer passar. Mas assim como texto difícil a sensação de dever cumprido é libertadora. Muito mais por saber tudo que se aprendeu nas adversidades, pela desconstrução das certezas. Escolho a palavra amadurecer para 2016, porque essa foi a missão do ano. Começou sem que eu entendesse, ou aceitasse muito bem, todo enviezado.E  vieram os 30 e foi gostoso ver que a mulher um ano atrás já não habita mais. E no fim não foi tão bom quanto eu queria, foi penoso, mas também não foi tão ruim assim. Sobrevivemos.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Coelhos!

Meu Natal não é dos mais sacros. Não temos muitas tradições religiosas, nem lembro a última missa de Natal que assisti, se bem que se a do Galo do Papa, direto do Vaticano, contar, ela é bem bonita e sempre passa na TV da sala, como se entrasse em comunhão com o resto do mundo. Por aqui tem muita comida e os shoppings lucram muito com a quantidade dos Coelhos. 

Por aqui é um monte gente reunida que faz bastante barulho. A escolha do cardápio da briga, sorteio do amigo oculto da briga, até a cor da decoração da árvore da briga. É uma confusão sem fim todo ano que já começa nos preparativos e só termina na hora de guardar a louça da ceia.

Mas por aqui também o recheio principal no meio do caos é família. Dia que os primos conseguem colocar os adultos mais tímidos do mundo para participar de um "mannequin challenge". Dia de declarações amorosas no amigo oculto. Dia de agradecer a tia que cozinha divinamente. Dia de trazer todo mundo para casa da Vó e de um monte de fotos. Dia de ver que o tempo passou, mas a reunião é a mesma, o sentimento também. Nosso sentido é esse,  se passamos o ano afastados, é nesse dia que nos encontramos para desejar felicidade aos Coelhos. Por aqui, é uma noite feliz! 


Feliz Natal!!!

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Por humanidade

E tudo se vai em um sopro, com um número assombroso e a lembrança de que a vida é efêmera, escapa. Por empatia ou por humanidade não se passa imune a uma tragédia como a queda do avião que levava o time do Chapecoense, tripulação e jornalistas.

No acidente da boate Kiss acho que foi o Carpinejar que escreveu "eu também morri naquela boate", porque já fomos assistir shows em casas cheias e com péssima circulação. Li hoje um autor que escreveu que quando cai um avião morrem sonhos também, acho que parte nossa se vai na dor das famílias e no medo que vai vir quando subirmos de novo em um avião.

Tenho uma certa curiosidade pela história das pessoas, porque não podem ser mais um nome em número trágico. Procuro saber se deixam filhos, se eram casados, mãe, pai, vasculho fotos, procuro momentos felizes. Pode parecer meio mórbido, mas é uma tentativa de personificar o nome, procurar qual era o sentido daquela vida, porque eles não eram só profissão, muito menos a foto 3 x 4 na capa do jornal, cada um guarda uma trajetória muito mais valiosa, esse é o legado.

Não os conhecia. Não sou de uma cidade de 10 mil habitantes, mas sei que o que eu li as 4h da manhã de hoje vai ser revivido na memória das pessoas por anos nessa cidade. Hoje morreu um pouco do futebol, um campeonato, sonho de garotos e suas famílias. A imprensa também chora. Do lado de cá fico em orações, peço para que o momento seja de solidariedade como já vimos em outras tragédias esportivas. Por empatia e por humanidade eu sou Chapecoense.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Balzaca!

Algumas memórias de infância guardo sem saber bem o porquê. Há alguns anos eu vi meu avô abrir um sorriso e dar parabéns a minha tia quando fez 30 anos, "Parabéns! Agora você é uma balzaca". Ali, com 8 anos eu quis muito ser balzaca. Claro que eu só descobri quem era Honoré de Balzac anos depois, mas meu avô nunca desejou menos que amor pra gente, então pra mim virou a coisa mais legal do mundo. Hoje, ele não está mais aqui para me dizer que virei uma balzaca, mas sei que faria com o mesmo sorriso aberto.

Nem por um minuto sofro com os 30, tenho adorado minha chegada a quarta década de vida. A maturidade me trouxe menos paciência, mas mais tolerância. Muito mais dúvidas que certezas, mas resiliência. O tempo segue implacável, mas o aproveito bem mais agora que aos 20. Alguns pontos o universo se encarrega de resolver por mim, outros me testa, e vou percorrendo minha trajetória. Por vezes senhora do destino, em outras refém, mas ciente de todas as escolhas.

Muito mais mulher que menina, chego a bem vividos 30 anos. Meio aos tropeços, hora errando, hora acertando, completamente rodeada de amor. As vezes me reinvento, saio da caixa. Redescubro o mundo, eu e ele ainda temos muito a nos conhecer. Agradeço a tudo e todos que me conduziram até aqui e assim, aos traços, faço o desenho ser bem mais interessante. Chego a bem vividos 30 anos, Vovô, virei balzaca!

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Minhas pausas

Viagens são as minhas pausas. Podem ser perdida na loucura das grandes metrópoles, completamente absorta em museus pelo mundo ou na beira do mar com um bom livro no colo. Pra mim o importante é mudar o ritmo, às vezes acelero e quero conhecer tudo que a cidade tem pra me dar. Em outros quero só sentar e ficar, deixar que o tempo passe por mim.

Escolho cafés, gasto energia. Tiro conclusões, desfaço decisões, me afasto de mim, sinto medo. Me encontro novamente, sinto saudade de você. Aceito desafios, reescrevo os limites, dirijo por novas estradas. Observo o diferente, costumes, hábitos, contextos. Faço um trabalho analítico em mim.

Encho meu peito de coragem. Nunca fui boa com mudanças, rotina eu gosto de você. Ainda tenho medo em perder o controle de tudo, sim, ainda tento controlar tudo. Não sei ser meio. Aprecio minha solidão e gosto de voltar pros meus, para àqueles que fazem tudo valer a pena, por quem eu mato e morro.

Volto à porta dos 30, pronta para entrar e deixar que chegue. Com decisões tomadas antes da partida em querer ser par. E a certeza de que pouco importam os anos, bom mesmo é estar vivo. Mundo ainda temos muito que nos conhecer. Minhas viagens são minhas pausas.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Sobre simplificar

Nos tempos de faculdade flertei com jornalismo literário e conheci o trabalho de uma jornalista habilidosa, de textos extensos e olhar peculiar. As pautas comuns, ela escrevia sobre pessoas, sobre a vida que ninguém vê, título que virou livro anos depois. A sensibilidade dela sempre me encantou, como ela se conectava com os entrevistados, os respeitava, devolvia dignidade àquelas pessoas por vezes invisíveis à sociedade. Na complexidade das teorias sociais e do cotidiano ela simplesmente simplificava.

Sete anos depois ela explode em mim em mais um dos seus textos que eu gostaria de ter escrito, que ficam rodando os pensamentos por dias, que perturbam até os sonhos. Em artigo longo no El País, ela escreveu sobre ansiedade, aquilo que luto diariamente contra, sobre essa vontade louca de não perder nada, de alcançar o 24/7, sobre estarmos sempre exaustos e correndo.

Logo eu que gosto tanto da minha rotina maluca me vi ali desenhada em uma triste e preocupante fotografia. Me vi criando muito pouco, recebendo muito conteúdo, me distanciando de mim e mais ainda perdendo a minha capacidade de compartilhar. Pelas linhas dela vi como me exploro nessa ansiedade de produção infinita e na cobrança de sempre ser mais, fazer mais e acabei me percebendo mais egoísta e pavorosamente limitada.

“Afinal, se tudo é possível, como eu não posso? O imperativo do tudo é possível é, paradoxalmente, aniquilador. Porque, obviamente, tudo não é possível. Nada mais limitante do que acreditar não ter limites. E viver como se poder poder dependesse apenas da (livre) iniciativa de cada um. E não poder poder, ter limites, portanto, fosse um fracasso pessoal.” (Brum, Eliane)

Eu sempre me orgulhei em ser multitarefa, na habilidade de fazer trocentas coisas ao mesmo tempo e pensando nas próximas, me vi ali na solidão que o texto elucidava. Os excessos com trabalho, descaso com os limites e a depressão. Minha autoexploração tinha me tornado vítima de mim mesmo. Questionei minha capacidade de me aprofundar em um, de contemplar. Quantas vezes me vi com limites desenfreados, querendo tudo o tempo todo e rápido? Afinal o tempo ia passar e eu não podia ficar. Quantas vezes deixei as expectativas tomarem conta na ansiedade de sempre ser mais? Afinal, eu não podia mesmo ficar.

Revi meus comportamentos, refiz perguntas, mas não, não entrei na Yoga, nem no TaiChi, não fui, (nem vou), largar tudo e morar no litoral. Assim como a autora encerra a argumentação dizendo que não vamos mudar, que seguiremos em nossas rotinas, acho que também não vou mudar tanto assim, mas é preciso pensar.  Ela também diz que há chance enquanto houver rebeldia. Apesar de uma inconformada inveterada, a minha não veio espontaneamente, minha mente que se rebelou, quebrou e exigiu uma pausa, me ensinou a desacelerar porque existem sim limites e é difícil reconhecê-los.

No fim, desconstruções foram necessárias. Foi preciso me reinventar, deixar o determinismo de lado, me abrir de novo, me permitir para sair do um só. Talvez tenha sido a proximidade dos 30 me levando aos clichês das reavaliações, talvez minha profunda admiração por alguém que olha e escreve tão bem, não sei bem, mas a maturidade já me trouxe algumas certezas. Uma delas é que não quero perder a empatia, mesmo na loucura da minha rotina deixar de lado a capacidade de contemplar, de me ver no olhar do outro, de doar meu tempo, de me doar. Quero a correria, mas prefiro deixar a exaustão de lado. Mais que tudo, assim como a repórter tão admirada, quero saber simplificar.

"E a vida continua surpreendentemente bela
Mesmo quando nada nos sorri
E a gente ainda insiste em ter alguma confiança. 
Num futuro que ainda está por vir. 
Viver é uma paixão do inicio, meio ao fim. 
Pra quê complicação, é simples assim” 
(Lenine – Simples Assim)

terça-feira, 12 de julho de 2016

Ela e ele


Quanto mais ele tentava se afastar dela, mais ela acreditava que a trajetória não é feita por uma sequência de acasos. Não se sentencia o destino. Enquanto ele se apegava a pseudo sensação de controle, ela preferiu escolher se livrar do medo.

Ela aprendia a lidar com os percalços da história. Ele se agarrava ao que não conseguia deixar ir embora. Ela preferia a percepção, aquilo que não é palpável, que não se explica, não se racionaliza, que só se sente. Enquanto ele preferia fincar os pés no chão escuro e se enfiar nos velhos erros.

Ele preferia viver em apenas um. Ela descobriu que não podia viver por dois. Ele se afogava nas lembranças de falhas. Ela precisou entender sobre perdão. Sem saber explicar sobre o intangível descobriu o sentir, aquilo que traz de volta. Se recusava a acreditar no fim sem sabor, preferia o riso largo a amargura da cama vazia.

Ele ainda se escondia, precisava ser inteiro, se livrar do que não lhe servia mais, acreditar, soltar o peso e se livrar das amarras que criou para si. Ali ainda tinha lugar para a felicidade de antes. Ela o trazia sem saber, voltava sem saber, ainda era ele mesmo sem saber, mas ele precisava querer. Ela preferia esperar o próximo acaso. 

domingo, 26 de junho de 2016

Um pouco mais perto...

Te odiei por muitos segundos, mas me veio o “será que você ainda pensa em mim?”. Evitei lugares, reescrevi memórias, apaguei lembranças, bloquiei o passado, me afastei de você,  de tudo que me trazia você, me desliguei de nós. Tirei o que não me servia, entulhei um armário e guardei toda mágoa em uma caixa funda escondida lá no alto. Desapareci em meio ao meu mundo.

Fiz um trabalho em mim, me reergui aos tropeços. Trouxe o novo. Atravessei um oceano para me achar mais uma vez. Passei noites em claro, tive medo, chorei baixinho, gritei aos ventos, procurei respostas, mudei as perguntas e tentei reescrever toda a história. Marquei na pele outra vez. Precisei me entender para compreender você.

A saudade sufocada por meses, a poeira que agora já ficou menor, as datas sofridas e a sensação de por viver. Revisitei meus comportamentos, achei minhas falhas e o preço alto que paguei. Quis procurar você “rezando para um dia você se encontrar e perceber”, preferi meus esconderijos.

Ainda te desejo todas as palavras nos cartões, nos presentes sem datas, nas ligações fora de hora. Penso nos meses em que passei sem escrever nem mesmo uma linha, no medo em me enfrentar, em aceitar. Ainda tem muito de você em mim.

Sigo no meu mundo, mas não mais desaparecida. Tirei a caixa do armário, tento me desfazer dela, não precisava ser assim, “essa dor eu não quero pra ninguém no mundo, imagina só pra você”. Não quis deixar o espaço do ódio em mim, prefiro preencher com o mundo, com as possibilidades. Prefiro reescrever, mesmo que seja você.