Te odiei por muitos segundos, mas me veio o “será que você ainda pensa em mim?”. Evitei lugares, reescrevi memórias, apaguei
lembranças, bloquiei o passado, me afastei de você, de tudo que me trazia você, me desliguei de
nós. Tirei o que não me servia, entulhei um armário e guardei toda mágoa em uma
caixa funda escondida lá no alto. Desapareci em meio ao meu mundo.
Fiz um trabalho em mim, me reergui aos
tropeços. Trouxe o novo. Atravessei um oceano para me achar mais uma vez. Passei
noites em claro, tive medo, chorei baixinho, gritei aos ventos, procurei
respostas, mudei as perguntas e tentei reescrever toda a história. Marquei na
pele outra vez. Precisei me entender para compreender você.
A saudade sufocada por meses, a poeira que
agora já ficou menor, as datas sofridas e a sensação de por viver. Revisitei meus
comportamentos, achei minhas falhas e o preço alto que paguei. Quis procurar
você “rezando para um dia você se encontrar e perceber”, preferi meus
esconderijos.
Ainda te desejo todas as palavras nos
cartões, nos presentes sem datas, nas ligações fora de hora. Penso nos meses em
que passei sem escrever nem mesmo uma linha, no medo em me enfrentar, em
aceitar. Ainda tem muito de você em mim.
Sigo no meu mundo, mas não mais
desaparecida. Tirei a caixa do armário, tento me desfazer dela, não precisava ser
assim, “essa dor eu não quero pra ninguém no mundo, imagina só pra você”. Não
quis deixar o espaço do ódio em mim, prefiro preencher com o mundo, com as possibilidades. Prefiro reescrever, mesmo que seja você.