2016 foi igual a texto difícil de escrever, daqueles que
você inventa, olha, detesta, inverte a ordem, reescreve os parágrafos, refaz o lead, risca, amassa e
começa de novo pra ver se dá jeito. Aí de repente trava tudo, não sai nada, nem
uma mísera linha, pior que do que bicho empacado, mas quando você ta muito
perto de desistir algo surge e enche laudas e laudas então você acha “agora vai”,
mas estagna de novo. Até que um dia você consegue terminar, não ficou tão
bom quanto queria, ou imaginou lá no início, mas relê e vê que também não ficou tão ruim
assim.
Foi um ano complicado por aqui, e a contar pelas reclamações
generalizadas nas redes sociais muita gente brigou com 2016 também. Reafirmei
minha birra dos anos pares, admito que mera superstição, mas que ando
preferindo os ímpares eu não nego. Vivi algumas batalhas inglórias, mas também
tive vitórias gloriosas, não sou tão ingrata. Me reinventei.
A crise econômica e seus números assombrosos assolaram o
país. Assistimos o desemprego crescer, atingir 12 milhões de pessoas. Vimos estabelecimentos
tradicionalíssimos da cidade fecharem suas portas e o comércio popular sofrer, Questionamos a competência
de nossos gestores. Observamos assustados a desigualdade social, a
intolerância, o ódio que mata e muitas tragédias, foi um ano difícil para qualquer
coração. Todos perdemos.
Fomos notícia pelo mundo, mas por figurarmos entre os países
com esquemas corruptos imensos e intrínsecos a nossa política. Odebrecht seguiu
com suas delações e apresentou um buraco sem fundo, para provar o que o José
Simão anuncia faz tempo “não tem virgem na zona”. Em ano de impeachment,
assistimos uma discursão polarizada que esqueceu que há vários outros tons
entre preto e branco, a história não é linear, assim como os interesses também
não o são. Desacreditamos.
Mas também foi o ano dos jogos olímpicos brasileiros. Sim,
eu sei, desrespeita as desigualdades, “não é prioridade, o legado é mínimo, é
extorsiva”, mas que foi linda, ah isso ela foi. O mundo inteiro esteve aqui,
conhecemos milhares de histórias inspiradoras, assistimos competições de
altíssimo nível, vibramos, choramos e a festa no Rio foi linda. Contrariamos os
mais pessimistas, desculpa Irmãos Wright, mas o avião é nosso. Emocionamos.
E lá o ano se vai meio atrapalhado ainda, empacando a fila,
parece não querer passar. Mas assim como texto difícil a sensação de dever
cumprido é libertadora. Muito mais por saber tudo que se aprendeu nas
adversidades, pela desconstrução das certezas. Escolho a palavra amadurecer
para 2016, porque essa foi a missão do ano. Começou sem que eu entendesse, ou
aceitasse muito bem, todo enviezado.E vieram
os 30 e foi gostoso ver que a mulher um ano atrás já não habita mais. E no fim
não foi tão bom quanto eu queria, foi penoso, mas também não foi tão ruim
assim. Sobrevivemos.