Essa semana li sobre o assassinato de um turista no litoral
de São Paulo por uma menor de 14 anos, o crime foi um latrocínio, roubo seguido
de morte, o espanto em torno da crueldade da menor é notável, mas os
comentários enveredavam para uma crueldade talvez pior do que a da menina.
Comentava-se sobre pena de morte, sobre diminuição da idade penal, direitos
humanos, estatuto da criança e do adolescente e pasme sobre invasão nordestina,
castração química, esterilização, e a usura dos recursos paulistas. Um dos
comentários sugeria colocar “anticoncepcional na água” para evitar a concepção
em jovens pobres.
Se existe algum tipo de dúvida sobre a existência de
preconceito seja ele racial, social, econômico e até regional é facilmente
resolvível, é só se dar ao trabalho de ler algum tipo de fórum que expresse
discussões rasas, infundadas e com esse sentimento de revanchismo que comanda a
sociedade. É a ideia do levar vantagem, de pagar na mesma moeda, que por horas
beiram uma espécie de xenofobia, em que parte da população se acha prejudicada
pela existência dos mendigos, das políticas afirmativas, dos movimentos
migratórios, resultado de análises precárias e absoluta ignorância.
Quando falo em ignorância o faço com a certeza de não haver
termo melhor, porque os que falaram sobre os nordestinos que “sugam” os
recursos paulistas esqueceram de ler a pesquisa do IBGE que diz que a produção
industrial paulista declinou no último ano enquanto que a nordestina foi
destaque na formação do PIB nacional. Também não leu a pesquisa sobre migração
que indicou uma taxa elevada de emigrantes no estado paulista e não o
contrário. Quem fala em controle de natalidade com castração química
devia ir preso e ser castrado.
A falta de proporção nas ameaças disparadas
contra a menina beira o irracional. Não sou nenhuma grande defensora dos direitos
humanos, mas avalio contextos, falta de educação, estrutura familiar e
perspectivas de futuro causam problemas. Com 14 anos, a adolescente tem sim
juízo do que estava fazendo, não é de forma alguma inocente, mas a noção de
certo e errado foi adquirida na rua, os valores foram formados sem a devida
orientação. Diminuir a idade penal e inchar os presídios é solução? Nosso
sistema prisional é caótico, não comporta nem o que tem. Instaurar a pena de
morte resolveria? Se matar gente fosse solução, a Alemanha seria potencia
mundial hoje, as ditaduras seriam regimes fantásticos de governo.
No caso, aparece a figura de um homem que vê o carro e
convoca a menor, o aliciador, reflexo da falta de escrúpulos que chegamos,
quando crianças são armas dessas mentes criminosas e hábeis. É um soco na cara do país que não é capaz de
educar suas crianças e as deixa sujeitas a esse tipo de situação. Enquanto se
acreditar que para quem não tem nada qualquer ajuda é suficiente e que
resignação é um sentimento infinito assistiremos casos assim. Nunca fui muito
fã de espaço para comentários nas notícias, mas de vez em quando rendem boas
discussões.