Não tenho
nenhuma dúvida ao afirmar que o Sonhar Acordado me transformou na profissional
que sou hoje. As habilidades que uma festa organizada para 500 crianças exigem
são infinitas, sem equipe não somos ninguém, sem bons líderes a festa desanda.
Foi ali que aprendi sobre gestão, sobre visão sistêmica, sobre cronograma,
orçamento e principalmente a me adaptar, a responder a demandas imediatas sem
(muito) pânico. E ainda apresentar o trabalho voluntariado a pessoas com
vontade de fazer algo por alguém.
Nunca soube
se efetivamente modifiquei a vida de alguma criança ao longo desses quase dez
anos de Sonhar Acordado, mas hoje sei perfeitamente o quanto elas modificaram a
minha. Assisti o crescimento de algumas delas, mesmo vendo uma, duas vezes por
ano. Receber o abraço “tia, você lembra de mim?” e ver que o “sobrinho” já
beira a minha altura sempre foram momentos que não abro mão. E elas nos
conquistam sempre, no olhar pidão, no sorriso largo, no beijo tímido, até no
choro ou no piti de menino danado, o que conta é a sinceridade.
Mas não foi
só com as crianças que aprendi em todo esse trabalho. A cada festa, os
voluntários me surpreendem, chegam com uma disposição de ajudar que não se vê
em nenhum outro lugar. Dirigem para lugares distantes, carregam peso, viram
decoradores, cerimonialistas, animadores, juízes de futebol, garçons e o que
precisar. Nessa hora, eu acredito em boas pessoas, não é dinheiro que doam, é tempo,
é vontade de fazer o bem, de sair da zona de conforto.
No último
evento, após desembarcar o último ônibus me dei o direito de sentar e observar
a festa. Uma dupla me chamou a atenç ão, bem no meio da quadra. Era uma das
meninas da Casa Transitória, mais velha, uns 13 anos talvez, mas bem infantil
ainda, uma idade difícil de lidar dentro do Sonhar, não é todo voluntário que
tem habilidade. O “tio” mostrava uma simbiose absolutamente perfeita, não era
nada inacreditável, eles dan çavam e riam, um riso gostoso, leve, divertido.
Fiquei ali, olhando os sorrisos e lembrando porque eu gosto tanto de ficar com
a coluna doendo, joelho inchado e braços doloridos, porque todo stress só vale
exatamente para ver aqueles dois sorrisos. Chorei. E ri também.
No fim do
dia, o espetáculo é outro, é assistir os “tias” e “tios” encantados por suas
crianças, que as seguram até o último minuto, que se pudessem não mais se
despediriam dos pequenos. Ali, aprenderam que elas na verdade não precisam de
nada, só de carinho, de atenção. Podemos até não conseguir transformar a vida
das crianças, mas os voluntários eu tenho certeza que o Sonhar muda. Não tenho
nenhuma dúvida ao afirmar que o Sonhar Acordado me trouxe muito do que sou hoje
e agradeço todos que sonharam e sonham juntos.