segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Não levanto bandeira

Sou filha de pai negro e mãe branca. Sou o que os sul-africanos chamam de "Rainbow Nation", acredito em sincretismos, acredito que ninguém é igual a ninguém, mas todos têm os mesmos direitos. Nunca participei do movimento negro. Minha identidade afro descendente eu aprendi fora de casa, demorei muito pra gostar dos meus cachos rebeldes.

No meu tempo de adolescente não tinha Thaís Araujo, Alicia Keys, Beyonce e tantas outras negras lindas que hoje tem espaço na mídia, o padrão de beleza era outro. Demorei para ver o quanto negros são bonitos, na verdade meus preferidos. Quando aprendi que era bonita, descobri porque aprendi a “ser negra” fora de casa, aqui simplesmente somos pessoas, seja lá a cor que temos, não levantamos bandeira, só vivemos e se alguém se incomoda, é uma pena.

Essa semana fui à mesas de debate na Universidade de Brasília, li manifestos. Toda semana da consciência negra é assim. Ouvi sobre a dicotomia da celebração do dia, sobre o risco de incorrer em preconceito às avessas. Concordo em parte com a citação, uma vez que me faz pensar em ações afirmativas, como a política de cotas.

Desde 2003, existe uma lei que implementa o ensino de História da África nas escolas, mas aposto que o imaginário popular ainda incorre em pensar apenas na áfrica dos escravos e das tragédias. Os debates rasos e a falta de compreensão fazem com que as argumentações sejam fracas e fica esse ar de "compensação". Nada exclui os 300 anos de escravidão e as desigualdades sociais provocadas. A idéia é a naturalização, lembra de quantos amigos negros você teve na faculdade?
Não acho que as cotas sejam solução, mas é um começo, porque falar em educação de base exclui a geração atual. O dia 20 não é só para exaltar a luta, Zumbi dos Palmares, mas reafirmar a beleza, a cultura e mais do que isso, naturalizar a condição do negro.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Fim...

De repente eu me vi ali, numa noite de sábado lendo sobre o fim do amor de alguém e sublinhando frases que poderiam ser minhas. Com as palavras dela eu explicaria o meu fim. Senti uma dor aguda, um medo sufocante e vieram as lágrimas quando o Ipod insistiu em tocar a música que era tão dele.

Eu sabia que acabaria, que tínhamos problemas sérios. No fundo, era melhor assim, mas ainda o queria aqui comigo. Ele me implorou tantas vezes que eu o deixasse, tentou me mostrar que não estava pronto, por mais que acreditasse tanto na gente e insistisse que queria casar comigo.

“Não por conteúdo, mas por formato”, nunca achei que a frase que uso para editar textos serviria para explicar o colapso do meu relacionamento. Sem ele, eu tenho a certeza que não foi a falta de amor que pôs um fim na gente, nunca tive dúvidas sobre o sentimento, a falha foi no trato. Não conseguimos ultrapassar o obstáculo que sempre esteve lá.

Sabiamos que não seria fácil. Eu aceitei, decidi que valia a pena e de fato valeu. Mas de repente eu vi que já não mais cabia nele. A lista de prioridades tinha muitos outros tópicos antes de mim. Me senti mal pela minha falta de compreensão, mas em seguida descobri que não era culpa minha, tão pouco dele. Ele não mais poderia me oferecer o que eu precisava. Não me culpo pelos meus sonhos.

Ele me mostrou “quem eu também poderia ser”, em como podia ser divertida e descomplicada. Insisto em consultar minha memória e ver em que ponto rompemos passamos a “transformar trivialidades em motivo para emburrecimento”.

Com a minha paciência na reserva e um cansaço de tanta complicação nem mesmo consegui dizer “terminamos aqui”, mas ele entendeu e teve mais coragem que eu. Terminávamos ali. Chorei. “É uma dor que tentamos compreender em voz alta”, milhares de linhas escritas, de conversas intermináveis. Eu sei que vai passar, que outros virão, mas o problema é o que ficou. “No amor não existe moral da história”