quinta-feira, 15 de setembro de 2011

À elas com carinho...

Minha primeira boneca Barbie logo ganhou companhia e passamos a passear por aí. Íamos eu, minha boneca e todas as tralhas dela passar tardes divertidas em outro território. O tempo nunca era suficiente, no fim sempre tinha o “mãe, só mais meia hora”. Passávamos horas ali, entre roupas, carros, banheiras e todo os assessórios que nossas bonecas tinham, e quando não tinham a gente inventava, nas nossas brincadeiras a imaginação não obedecia limites. Há quase vinte anos eu aprendi com você o que era compartilhar.

A escola não é fácil para ninguém. Sempre achei que ou eu era muito pequena ou o mundo que andava rápido demais ao meu redor. Ninguém entendia muito bem os meus problemas, eles eram sérios, pelo menos ao meu ver, mas os adultos insistiam em ignorá-los. E você estava lá, mais bonita, por vezes mais esperta e sempre disponível para os dramas adolescentes. Foram anos assim, eu pra você e você pra mim. Com você eu descobri o que era fraternidade.

Tomar decisões nunca foi o seu forte, eu me assustava, mas acho que ainda me virava bem. O último ano do que até então conhecíamos como organização social estava indo embora. Olhar para o futuro trazia uma sensação de desconforto misturada a nossa freqüente ansiedade, que nos acompanha até hoje. Chegou a formatura e as dúvidas se agravaram, a Universidade se mostrou mais trabalhosa do que imaginávamos. Foram vários puxões de orelha. Você me ensinou sobre ser incondicional.

Algumas pessoas simplesmente surgem em nossas vidas. Com você foi assim, numa tarde quente em um aula improvável. O tempo foi pouco, eram só algumas horas por semana de uma falação interminável, mas o necessário para algo que duraria a vida toda. E veio a mesa cativa, a revista recém editada, começamos a brincar de ser gente grande. A vida seguiu e nossos projetos começam a tomar formas. Você me ensinou sobre determinação.

Sensibilidade seria a sua palavra, aos poucos aprendeu a ler meus sorrisos, meus olhares e meus silenciosos pedidos de ajuda. Protagonizou boa parte das histórias engraçadas que conto por aí, companhia necessária de batizado à casamento. O sorriso largo e a paciência me mostraram um lado que eu não conhecia, a sensibilidade se confunde com sensitividade com você. E se tudo caminhava para que fosse uma concorrente, ganhei uma parceira. Com você foi fácil aprender sobre cumplicidade.


A despedida e a vida em outra cidade mostraram o longo caminho que ainda temos a cumprir. Tem gente que chega sem avisar e de repente toma muito espaço. Com você foi assim, não lembro de data, de ano, de acontecimento, só lembro de horas de conversa, de passeios agradáveis. Nossa torcida é sem barreiras. Com você soube o que era ter suporte.

Descobri o que me toca, o que me emociona, todas em sua maneira especial de ser. Vi a realidade de uma relação sem interesses, sem exigências, sem competição, que se orgulha do outro, que quer tomar as dores e compartilhar as felicidades. Daqui a 30 anos ainda vamos nos encontrar, sentar, fofocar, reclamar, chorar e rir como quem se orgulha ao lembrar de um passado nostálgico. Com vocês, no seu mais singelo significado, aprendi o que é amizade.

Um comentário:

Rachel Marinho disse...

Adorei amiga!
Ficou uma leitura bem gostosa!
Amizade é algo realmente incrível, ne?!
Transforma, fortalece! É realmente sinônimo de cumplicidade, suporte e aprendizagem!
Amei o último parágrafo!
Inclusive, precisamos reunir as meninas!!!
Beijinhos