
Guardo a ansiedade dos 20, ou dos 15, dizem ser o mal dessa
minha geração. É a tal Y que me concede a habilidade de ler, ver tv, falar com
várias pessoas pelo celular e pensar no vestido da noite. Só não descobri ainda
se isso é vantagem ou maldição. Manter a agenda sempre cheia e um bloquinho ao
lado da cama para não perder as ideias que fervilham e parecem querer
escapar.
Completo 26 primaveras e penso nas décadas percorridas. A
redemocratização começava no Brasil no meu ano de nascimento. Enquanto eu dava
meus primeiros passos na escola um presidente brasileiro sofria um impeachment.
Perto dos 10 vi o Brasil erguer a taça do tetracampeonato. Assisti o fim do
Apartheid na África do Sul e a implantação do Plano Real que levou a todo mundo
pra Disney. Aos 15 eu vi aviões se chocarem contra prédios igual a cena de
filme e com quase 18 um operário semi-analfabeto virou presidente do país.
Já perdi gente querida, já chorei baixinho em um canto
escuro. Tive alegrias plenas, felicidades incontidas. Viajei, fiz amigos para
uma vida toda. Tive dor de amor, dor de cotovelo e chorei muito por um pé na
bunda. Fiquei doente, senti raiva do
mundo e não entendi. Morri de saudade e acordei no dia seguinte vendo que a Terra não tinha parado de girar.
Agradeço minha companhia e aprendo a ser só. Não tenho nenhum
grande feito, não escrevi um livro, não fiz um filho, talvez tenha plantado uma
árvore, não lembro. Tento ser uma boa pessoa, fazer pelos outros o que queria
que fizessem por mim. Me encontro e me desencontro com Deus frequentemente.
Tenho inspirações várias e uma mente cheia de desejos. Não me meço pela minha
bunda, meu buraco é bem mais em cima. Tenho orgulho do meu humor ácido e
problemas em manter a boca fechada.
Sou tanta coisa junta que viro um monte de projetos infindados.
São 26 anos de dúvidas, de um trabalho que não recebe declaração de
encerramento. Só tenho medo de estagnar, de perder os sonhos, de esperar o
tempo passar. A única certeza é que desejo que venham os 36, os 46, os 56 e
tantos outros. ”O que importa mesmo é comprovar que afinal de contas a melhor
idade da vida é estar vivo”. Me sinto mais perto dos 30 do que dos 20, me sinto
vivendo.
Um comentário:
Fico encantada com sua capacidade de colocar no papel tantos sentimentos juntos! E mais ainda com o fato de que, normalmente, eles traduzem boa parte do que eu sou também!! Saudades sempre!!
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