sábado, 10 de novembro de 2012

Me sinto vivendo

Me sinto mais perto dos 30 do que dos 20 com todas as idiossincrasias e incoêrencias da frase. Sim, há 10 anos eu imaginei muita coisa diferente, à essa altura eu seria mestre e estaria resolvendo algum problema mundial. Mas fui ficando por aqui, escolhendo pelo caminho, me decepcionando daqui, me animando ali, desapegando de algumas ilusões infantis e ganhando sonhos novos. Ainda quero viajar pelo mundo, falar outras línguas, ler uma infinidade de livros, conhecer gente, ainda quero muita coisa. A parte das comidas exóticas me reservo o direito de ficar sem, ainda tenho o paladar de criança.

Guardo a ansiedade dos 20, ou dos 15, dizem ser o mal dessa minha geração. É a tal Y que me concede a habilidade de ler, ver tv, falar com várias pessoas pelo celular e pensar no vestido da noite. Só não descobri ainda se isso é vantagem ou maldição. Manter a agenda sempre cheia e um bloquinho ao lado da cama para não perder as ideias que fervilham e parecem querer escapar.

Completo 26 primaveras e penso nas décadas percorridas. A redemocratização começava no Brasil no meu ano de nascimento. Enquanto eu dava meus primeiros passos na escola um presidente brasileiro sofria um impeachment. Perto dos 10 vi o Brasil erguer a taça do tetracampeonato. Assisti o fim do Apartheid na África do Sul e a implantação do Plano Real que levou a todo mundo pra Disney. Aos 15 eu vi aviões se chocarem contra prédios igual a cena de filme e com quase 18 um operário semi-analfabeto virou presidente do país.

Já perdi gente querida, já chorei baixinho em um canto escuro. Tive alegrias plenas, felicidades incontidas. Viajei, fiz amigos para uma vida toda. Tive dor de amor, dor de cotovelo e chorei muito por um pé na bunda. Fiquei doente,  senti raiva do mundo e não entendi. Morri de saudade e acordei no dia seguinte vendo que a Terra não tinha parado de girar.

Agradeço minha companhia e aprendo a ser só. Não tenho nenhum grande feito, não escrevi um livro, não fiz um filho, talvez tenha plantado uma árvore, não lembro. Tento ser uma boa pessoa, fazer pelos outros o que queria que fizessem por mim. Me encontro e me desencontro com Deus frequentemente. Tenho inspirações várias e uma mente cheia de desejos. Não me meço pela minha bunda, meu buraco é bem mais em cima. Tenho orgulho do meu humor ácido e problemas em manter a boca fechada.

Sou tanta coisa junta que viro um monte de projetos infindados. São 26 anos de dúvidas, de um trabalho que não recebe declaração de encerramento. Só tenho medo de estagnar, de perder os sonhos, de esperar o tempo passar. A única certeza é que desejo que venham os 36, os 46, os 56 e tantos outros. ”O que importa mesmo é comprovar que afinal de contas a melhor idade da vida é estar vivo”. Me sinto mais perto dos 30 do que dos 20, me sinto vivendo.

Um comentário:

Débora Borges disse...

Fico encantada com sua capacidade de colocar no papel tantos sentimentos juntos! E mais ainda com o fato de que, normalmente, eles traduzem boa parte do que eu sou também!! Saudades sempre!!