Processos identidários são complexos e lentos, envolvem uma
série de questões como proximidade, significação, cultura e assimilações.
Alguns autores discutem que estamos em meio a uma crise de identidade, é difícil se encontrar. Estudei história
cultural por anos para tentar entender exatamente esses constructos sociais. E
toda essa teoria se perde quando preciso responder a pergunta semanal: “Quando
vai casar?”. Será que ainda preciso legitimar minha identidade em uma figura
masculina? E o quanto caminhamos até aqui? Será que o sucesso ou fracasso da
minha vida, e da vidas das mulheres, se define pelo casamento?
Não sou contra as casadas, tão pouco levanto bandeiras de
“solteirice”, sou filha de um casamento que já dura quase trinta anos e até acredito
em relacionamentos longos e felizes. O que me incomoda é essa subversão da
ordem, depois de tanto chão percorrido por liberdade, o que importa é casar, seja lá com quem for, manter um relacionamento
que nem você acredita, mas casar, fazer o préstimo social. Preciso primeiro de
um relacionamento para talvez acreditar que possa existir um casamento, alguém
que valha a pena, alguém que possa – e saiba e queira - compartilhar, alguém
que possa ser quem o meu pai foi para mim para outro alguém.
Tenho teorias sobre a comunidade casada, ou morrem de inveja
das solteiras ou tem medo de perder os maridos para nós. Porque não há outra
explicação para a quantidade de vezes que eu escuto essa pergunta por semana.
Melhor ainda quando me fazem a pergunta e em seguida começa a sessão reclamação
do marido, penso “e querem que eu case?”. Senhoras a expectativa de vida
cresceu e não vou morrer aos 50. Não sei nem quem eu sou, o que eu gosto, o que
eu quero, minha carreira ainda engatinha e volta e meia me pego pensando se
virei mesmo adulta ou ainda estou no meio do caminho. Pode ser que eu descubra
tudo isso com alguém, mas também pode ser que não.
Tenho problemas em me identificar nesse esteriotipado mundo
feminino, cor-de-rosa e romântico. Sou o filho homem do meu pai, gosto de
futebol, corrida de fórmula 1, não tenho medo de barata, troco lâmpadas, gosto
de dirigir, sou objetiva. Ele só teve uma filha e acho que precisava de
companhia. Também não ajudou muito ter a mãe mais independente e irritantemente
objetiva do mundo. Perdi a conta de quantas vezes ouvi que “se demorasse mais
um pouco vinha menino”, mas acho que não era mesmo para ser fora da caixa. Não
gosto de discursos sexistas, defender mulheres e suas necessidades de
subserviência nunca foi uma tarefa simples, na contramão justificar
determinadas ações masculinas no famoso “mas ele é homem” também me tiram da
razão.
Minha identidade é minha, meu sobrenome eu ganhei e o
construí. Já me apaixonei, já sofri, já achei que ia morrer de amor e nasci de
novo no dia seguinte. Sinceramente não estou preocupada, posso entrar em um
salão sozinha, posso sentar para jantar sozinha, posso viajar, ir ao cinema
sozinha, posso gostar muito da minha companhia, mas também posso abrir espaço
para outras. Isso não é um problema, não ando atrás de nenhuma solução ou simpatia. “Vó eu já estou
arranjada.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário