quarta-feira, 8 de março de 2017

Que sejam direitos, não sonhos

Exposição no Canal do Panamá, 2016
O 8 de março é celebrado oficialmente como Dia Internacional da Mulher desde 1921, mas apenas em 1945 a Organização das Nações Unidas assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres e só em 1977 a data foi reconhecida pela entidade. As lutas femininas são anteriores a ambas as datas, os primeiros grandes protestos são ainda do século XIX em meio às péssimas condições de trabalho pós-revolução industrial.

A luta por igualdade de direitos não é nenhuma novidade no cenário mundial. O Banco do Brasil tem em sua agenda a equidade de gênero, segundo matéria veiculada na agência de notícias apenas 11,7% das funções consideradas de comando (presidente, vice-presidentes, diretores, gerentes executivos e superintendentes estaduais e regionais) são ocupadas por mulheres. Segundo dados da Febraban, é o menor percentual entre os maiores bancos brasileiros. E o reconhecimento desta desigualdade é o primeiro passo para mudá-la.”

A importância desse reconhecimento da empresa já era explicada pela autora francesa, e conhecida feminista, Simone de Beauvoir: “É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separa do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”.  O filosofo Mario Sérgio Cortella explica que feminismo não é o contrário do machismo, diferente ele não pressupõe que mulheres são superiores, mas sim que são iguais.

É preciso falar de feminismo, discutir aquilo que incomoda, a demonização do movimento não contribue com a inclusão de importantes pautas na agenda pública. O mundo vem entendendo aos poucos. O prêmio Nobel de literatura de 2015 foi dado a escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Alexiévitch, de 67 anos, ela foi a 14ª mulher a vencer o prêmio em 114 anos. Uma das raras autoras de não ficção premiadas com o Nobel, escolhida por dar voz às mulheres soviéticas que lutaram na Grande Guerra.

O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países. O Brasil registrou, nos dez primeiros meses do ano passado, 63.090 denúncias de violência contra a mulher - o que corresponde a um relato a cada 7 minutos no país. Segundo o último mapa da violência contra a mulher, foram contabilizados 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres, número que coloca o Brasil no 5º lugar no ranking de países nesse tipo de crime. Entre 2001 a 2011, estima-se que ocorreram mais de 50 mil feminicídios, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano.

Há muitos avanços a serem comemorados, mas ainda há muito que prosseguir. Nunca consegui explicar a um homem a enorme diferença entre cantada e assédio ou o que é temer que o corpo seja violado. Ficar apreensiva ao passar por um grupo masculino ou a absoluta indignação quando a justificativa é o instinto masculino ou os trajes “convidativos” femininos. Quem não controla instinto é bicho, fim da discussão. Por mais que articule bem as palavras, algumas questões são absolutamente sensitivas, não há como descrever, nem por isso devem perder legitimidade.

Nesse Dia Internacional da Mulher, entendo o quão gosto da mulher que me tornei, por ter consiguido percorrer todo o árduo caminho com a cabeça erguida, agradeço minhas matriarcas, por vir de uma família com mulheres fortes há muitas gerações. Honro todas as que vieram antes de mim, em suas lutas diárias, por toda coragem, por determinação, pelas conquistas. E me apego a esperança, para que nossas meninas não mais precisem discutir equidade, que liberdade, educação, trabalho e dignidade sejam direitos, não sonhos.

“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância.” 
(Simone de Beauvoir)

Feliz Dia Internacional da Mulher!!!

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