domingo, 28 de outubro de 2012

Onze anos

Há onze anos eu te perdi. Lembro como se fosse hoje da ligação confusa e dos gritos pela casa, a incerteza da noticia e a incredulidade da situação. Ainda guardo o vazio que você deixou, ainda sinto a dor de não te ter aqui todos os dias. Penso em te contar minhas vitórias, em chorar minhas dores e poder tomar café com você de novo.

Você não estava na minha valsa, nem no fim da escola, tampouco quando segui meio sem querer a sua carreira. Não me viu segurar o canudo com orgulho, nem acompanhou a dolorida segunda graduação. Mas foi minha inspiração a cada passo. Meu extremo orgulho pela sua história, por ser fruto dela e por poder contar a todos com propriedade de neta especial.
Lembro de subir nos seus ombros e fiscalizar a casa, lembro de reclamar do seu ronco alto. Guardo com carinho as idas até a banca de revistas para comprar palavras cruzadas nível fácil, mera estratégia para se livrar dos meus rabiscos na sua dificílima. O sorriso largo, a simpatia natural e a estima em passar horas conversando. Minhas madrugadas sentem a sua falta.
 
Mesmo com a mesa da sala vazia, sem os livros, sem as palavras cruzadas, sem as madrugadas ainda te sinto a cada passo, a cada pedacinho da casa. Nenhum deles te teve como eu tive, ninguém te viveu como eu vivi. Guardo tuas lembranças, e teus livros, com ciúme de um amor que é só meu, que não quer ser compartilhado e que te mantém vivo em mim. Há onze anos eu te perdi e há onze anos ainda está aqui.

Um comentário:

Duda disse...

Lindo, Tati!!
Sinto essa saudade diária também, mas sabemos que somos guardadas e intuídas por esses anjos. Isso me dá um conforto profundo.

Beijo