segunda-feira, 13 de abril de 2009

Para Francisco


Poucas coisas me fazem sofrer baixinho, mas fiquei paralisada. Sofrendo, chorando e com vontade de gritar. Um nó enorme na garganta e horas em frente ao computador. Assim fiquei quando me apresentaram o blog "Para Francisco". A história de uma mãe que perdeu o marido à dois meses da chegada do filho.

Decidi ir ao início, posts recentes não me fariam mergulhar naquela história como eu queria naquele momento. Li um ano da vida daquela mulher que passei a admirar a cada novo post. Chorei por ela e senti inveja do amor que teve e da coragem que tem. Senti pela sua perda, pensei nos sonhos perdidos, senti o medo dela e continuei ali, estagnada na frente do computador.

Aquela mulher me mostrou muita força, coragem e vontade de viver. Me questionei sobre o filho lendo tudo que ela escreve, como se sentirá. Imagino que ele ainda vai se emocionar e chorar muito lendo as palavras da mãe e do próprio pai.

Quis mais, pensei o que faria se fosse nora dela. Acredito que o livro será o maior tesouro de "Cisco", assim ele só permitirá que leia sua história aquela que amar. Mais ainda, acho que ele desejará o mesmo amor que a mãe descreve com tanta presteza no blog. Assim, quando encontrar a sua “cristiana” vai lhe entregar o livro. Penso em como a garota vai reagir, porque ao ler saberá que terá a responsabilidade de dar a ele o maior amor do mundo.

Me pergunto se as lembranças são minhas e só minhas ou se devem ser compartilhadas. Minha primeira e grande perda aconteceu aos meus 14 anos, perdi meu avô. Morava comigo, tínhamos gostos parecidos. Me pego pensando se a responsabilidade contar aos meus primos sobre ele é minha- como a de Cristiana contar ao filho sobre o pai. Eles nunca terão o que eu tive com ele e dele.

Lembro que não quis ir ao enterro, tive medo de lembrar dele em um caixão. Incontadas as vezes sonhei com ele voltando, como se tivesse apenas se perdido e tudo fosse uma brincadeira. Mas ele não voltou. Guardei seus livros como quem leva diamantes a um cofre. Assim sinto o pedaço que ficou. Das palavras cruzadas rasuradas, das conversas de madrugada, do café na cabeceira da mesa, na fiscalização da casa e dos milhares de presentes que ganhei dele.

Ainda acho que a partida foi prematura. Ainda o tenho como meu ídolo. De “menino da fruta” à economista formado na Universidade Federal de São Luís e gerente do Banco da Amazônia. Ainda me emociona a história dele, assim como a mulher forte do blog, como ela escreveu “não levou um pedaço meu, deixou um dele”. Poucas coisas me fazem sofrer baixinho.


Tatiana Coêlho

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