terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A cidade do “Não pode”


Moro na cidade do “não pode”. Em Brasília, cada vez mais eu acredito que nada é permitido. Não pode beber em posto de gasolina, não pode conversar alto, não pode ter música em bares, ou seja não pode nada. Aqui sempre tem moradores, prefeitos da quadra, associação do bairro ou qualquer conselho de velhos pra impedir diversões noturnas. Depois das 22h todo mundo tem que dormir. Ah e shows e peças de teatro chegam em Brasília caríssimos, cultura é para poucos por aqui.


Somos campeões em multas na Lei Seca, tudo bem eu concordo com a lei e acho que tem que multar mesmo, pra mim quem bebe não dirige e ponto. Mas aqui não da pra beber perto de casa e nem mesmo em casa, porque algum vizinho vai reclamar do barulho. No projeto da cidade o “setor de diversões” seria o Conic, bem no meio da cidade, longe dos prédios residenciais, mas hoje é uma área de prostituição e acho que ninguém em sã consciência estaciona seu carro por lá.


A última novidade é o Galinho da Madrugada, um bloco tradicional do maravilhoso carnaval de Brasília, que este ano sairá com um fiscal do Ministério Público com um cronômetro. Depois de uma hora de desfile o bloco acaba, isso mesmo termina e cada um que vá para sua casa, caso insistam na festa serão multados em R$ 10 mil por hora. O bloco tem 17 anos, acho que é a única tradição do carnaval, ele e o Pacotão. Ano passado teve um problema, nem me lembro a gravidade, mas sei que ninguém morreu, por isso a prefeitura da quadra encrencou com o bloco.


No Lago Norte, meu bairro, é que a coisa é feia mesmo. Não tem nada, nem bar, nem boate, há uns anos tem um projeto de shopping que fecha dez da noite e a promessa de um Iguatemi. Já tentaram carnaval, bar, música ao vivo e tudo foi proibido. Até uma maldita ponte que sairia da porta da minha casa e cairia dentro da minha querida Universidade os velhos aposentados embarraram. Eles não precisam sair de casa nos horários comerciais, nem gastam a gasolina que eu gasto dando a volta.


Por fim nem tudo é tão ruim, algumas boates sobrevivem, bares, mas tudo longe dos bairros residenciais e duram apenas enquanto os moradores não encrencam. Isso acaba limitando, e muito, os lugares que freqüentamos. Não entendo o porquê do conservadorismo, também não vejo objetivo no silêncio absoluto, espero que um dia a chatice ao menos diminua, porque o incômodo não é freqüente tão pouco justificável. Quem sabe a cidade um dia vira “do pode”?!


Tatiana Coêlho

2 comentários:

Banana Verde disse...

ano passado rolou até tiro pq o galinho saiu e uma galera continuou na comercial (inclusive eu) enfim algum morador q n queria ser chateado essa única vez no ano deu um jeito de fazer policia brotar ali!!! enfim gás de pimenta e até tiro onde tinha até criança de colo...

Debora Evangelista disse...

Se vc acha que no Lago Norte não tem nada, imagina no fim do mundo onde eu moro (condomínios do Lago Sul). Pelo menos aqui posso fazer festa até mais tarde, sem vizinhos *mto* chatos!