segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um abraço negro, um sorriso negro, traz felicidade...

(26 de Novembro de 2008)

20 de novembro: Dia nacional da consciência negra. Dia de relembrar a divida histórica de 300 anos com os povos escravizados. Data de repensar a historiografia tradicional que coloca os escravos como pacíficos e condescendentes. Seria o dia de celebrar a diversidade, exaltar a liberdade, mas diariamente é possível esbarrar no preconceito e presenciar práticas de racismo.
Um dia antes da data a mídia pautou o crime de preconceito sofrido pelo sambista Dudu Nobre e família em um vôo internacional. A empresa? América Airlines. Sim, aquela que os donos fazem parte do dito primeiro mundo, evoluídos e letrados. Aquele mesmo país que elegeu um presidente negro.

Lidar com preconceito não é simples , o caso do sambista foi à público por ser um personagem conhecido. Mas e o Seu João? E a Dona Maria? O gari, a mulher da feira, o músico, a empregada doméstica, o operário de construção civil e tantos outros. Aqueles que são discriminados todos os dias, quando entram em um banco e o segurança gentilmente coloca a mão na arma, que ao entrarem no ônibus a senhora abraça a bolsa, e essas pessoas? Que recebem salários menores, trabalham em subempregos, enfrentam transportes lotados, policia desconfiada e moradia rudimentar.

Negro rico vira branco. A questão econômica ameniza ou potencializa o preconceito. Nas mais diversas esferas o racismo é observado, as vezes disfarçado, por vezes escancarado, de tão naturalizado que passa despercebido. As piadinhas “preto correndo é ladrão”, “negro dirigindo carro importado é motorista”, as expressões “lista negra” e tantas outras retratam o preconceito impregnado no imaginário social.

Mas nem tudo é ruim, hoje a cultura negra é aceita e valorizada, a religião respeitada e alguns costumes incorporados. Agora estudar África tornou-se obrigatório no Ensino Médio. As escolas e a educação são as principais armas contra o preconceito. Em uma escola classe no Gama a diretora promoveu oficinas de tranças afro, assim ela espera alterar conceitos estéticos. Em outra, as professoras emprestam belos bonecos de pano, de pele negra o brinquedo cada semana fica com um aluno. Assim estimulam os pequenos a lidarem com a diversidade.

Ver belas atrizes negras na televisão, assistir negros fazendo papel que ultrapassam motoristas e empregadas doméstica e ler em revistas de beleza sobre a pele negra são indícios de uma mudança, talvez lenta demais, mas importante. O país que elegeu um presidente negro precisou de um mega esquema de segurança para que o candidato discursasse em sua vitória, mas o negro venceu, não por ser negro, mas pela formação e competência.

Preconceito dói, ofende, quem sofreu sabe. É preciso ter cuidado com os excessos, a mania de achar que tudo é racismo. Não é gentileza existir uma política de cotas, ela tem falhas sim, o ideal seria melhorar a educação de base. Mas isso leva no mínimo 20 anos para apresentar resultados. E essa geração? Essa que estudou em escolas ruins e inseguras, o que se faz?

20 de Novembro: Dia de Nelson Mandela, de Zumbi, da juíza Luizlinda Santos, do José, da Maria…

“Se preto de alma branca pra você é um exemplo da dignidade, não nos ajuda só nos faz sofrer e nem resgata a nossa identidade”
(Jorge Aragão)
Tatiana Coêlho

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