segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Exploração dos Explorados

(5 de Agosto de 2008)

Passei a semana pensando em jornalismo social. Em como fiquei encantada com a palestra de uma jornalista apaixonada e na minha decepção com a série de matérias de outra profissional publicada no Correio Braziliense.

Me vi pensando na delicadeza de se abordar um personagem e seus direitos. Na função dos jornalistas ao esbarrarem com histórias de abandono e maus tratos. Será só contá-las é necessário? Até quando relato de meninas abusadas sexualmente precisam ser lidos? Em que eu como jornalista ajudo essas meninas contando suas histórias?

A jornalista apaixonada me ensinou que precisamos discutir políticas públicas, mostrar leis e levantar debates. Acreditei nela, realmente concordei e observei lendo seu trabalho que é possível contar histórias com bom senso. Só é preciso disposição para várias horas de trabalho com interpretação de uma série de tabelas e muitos, mas muitos dados. Além de levantar problemas que não foram questionados, pensar nas causas e se colocar como observador e não como crítico da realidade narrada.

Na série da semana senti pena das crianças, nojo dos algozes e descrença da raça humana. Sempre achei que se existe prostituição e pornografia infantil é porque há consumidor. Não gostei do texto, menos ainda da falta de cuidado com as imagens da criança. Na matéria não se falava o nome da menina, mas a foto mostrava estampado o nome escrito na blusa do uniforme. Me perguntei como escreveria aquelas histórias. Será que eu não cairia no clichê de mais uma narrativa sobre violência?

Assistindo a mais uma edição do Criança Esperança me deparei com a exploração dos explorados. A dita rainha dos baixinhos com os olhos pateticamente marejados ouvindo histórias de crianças violentadas. E a exposição dessas pessoas? Na televisão e em horário nobre? A apresentadora se mostrou despreparada e anacrônica ao contar sua “experiência de repórter”. Em seguida pais de vítimas da violência subiram ao palco e em depoimento o pai do menino Gabriel, morto por policiais no Rio, chorou pedindo justiça. Apelo?

Aprendi que jornalismo social só faz sentido se suscitar discussão à procura de soluções. A desgraça de uns não deve ser o entretenimento de outros. Rede Globo da próxima vez procurem a jornalista apaixonada!

Tatiana Coêlho

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