segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Importante, mas sem exageros!

(12 de Novembro de 2008)

“Hoje o jornalismo mostra algo que mais tarde será lido nos livros de história”. Assim a apresentadora do Jornal Nacional abria o noticiário da última terça-feira, 4 de novembro, dia em que o candidato Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos. Uma eleição com importância ímpar no imaginário social mundial e marcada pelo exagero. Campanhas milionárias, superexposição na mídia e expectativas exacerbadas.
Negro, nascido no Havaí, filho de pai muçulmano queniano e mãe branca americana, o candidato do partido democrata deixou clara a idéia de ruptura com o sistema conduzido por George W. Bush. O candidato humanizado, com filhas pequenas e apaixonado pela mulher Michele Obama. A superexposição do candidato, as esperanças depositadas e a crise econômica formaram o cenário pró-Obama, ainda nas prévias o mundo elegia Barack Obama como o melhor presidenciável.
Não se atento às propostas apresentadas ou mesmo a cobertura 24h no mundo todo, o mais interessante é analisar os discursos proferidos após os resultados oficiais.O primeiro discurso a chamar a atenção foi do candidato derrotado John McCain. “Barack Obama deixa de ser meu adversário para se tornar meu presidente”, assim o presidenciável pedia apoio para a nova gestão, agradecia os eleitores e se despedia da campanha.
O presidente eleito fez um discurso inflamado em que agradeceu o apoio da família, a dedicação da equipe de campanha, os eleitores e declarou seu amor pela esposa e filhas. Obama falou ainda do problema econômico, das famílias americanas que “perdem o sono preocupados com a hipoteca” e convocou o povo dos Estados Unidos para o trabalho e para participarem das decisões do país.
Foi dito que o discurso e o cenário de Barack Obama se aproxima do encontrado por Roosevelt em 1933, ainda tentando sair da crise de 1929 o então presidente eleito convocava a nação e implantaria o New Deal para resgatar a economia americana. Mais uma vez a comparação é exagerada, considerando que a crise de 29 teve origem na superprodução e afetou muito mais setores sociais do que a atual que se desenhou como uma crise de crédito. Roosevelt enfrentou um país devastado no período pós 1º guerra.
“Yes, We can” o slogan de campanha de Barack Obama foi inserido no discurso da vitória de forma extremamente inteligente, ao narrar a história de uma eleitora de 106 anos Obama mostrou a representatividade social de sua eleição.
“Estas eleições contaram com muitos inícios e muitas histórias que serão contadas durante séculos. Mas uma que tenho em mente esta noite é a de uma mulher que votou em Atlanta.
Ela se parece muito com outros que fizeram fila para fazer com que sua voz seja ouvida nestas eleições, exceto por uma coisa: Ann Nixon Cooper tem 106 anos.
Nasceu apenas uma geração depois da escravidão, em uma era em que não havia automóveis nas estradas nem aviões nos céus, quando alguém como ela não podia votar por dois motivos - por ser mulher e pela cor de sua pele.
Esta noite penso em tudo o que ela viu durante seu século nos EUA - a desolação e a esperança, a luta e o progresso, às vezes em que nos disseram que não podíamos e as pessoas que se esforçaram para continuar em frente com esta crença americana: Podemos.
Em uma época em que as vozes das mulheres foram silenciadas e suas esperanças descartadas, ela sobreviveu para vê-las serem erguidas, expressarem-se e estenderem a mão para votar. Podemos.
Quando havia desespero e uma depressão ao longo do país, ela viu como uma nação conquistou o próprio medo com uma nova proposta, novos empregos e um novo sentido de propósitos comuns. Podemos.
Quando as bombas caíram sobre nosso porto e a tirania ameaçou ao mundo, ela estava ali para testemunhar como uma geração respondeu com grandeza e a democracia foi salva. Podemos.
Ela estava lá pelos ônibus de Montgomery, pelas mangueiras de irrigação em Birmingham, por uma ponte em Selma e por um pregador de Atlanta que disse a um povo: “Superaremos”. Podemos.
O homem chegou à lua, um muro caiu em Berlim e um mundo se interligou através de nossa ciência e imaginação.
E este ano, nestas eleições, ela tocou uma tela com o dedo e votou, porque após 106 anos nos EUA, durante os melhores e piores tempos, ela sabe como os EUA podem mudar. Podemos.
EUA avançamos muito. Vimos muito. Mas há muito mais por fazer. Portanto, esta noite vamos nos perguntar se nossos filhos viverão para ver o próximo século, se minhas filhas terão tanta sorte para viver tanto tempo quanto Ann Nixon Cooper, que mudança virá? Que progresso faremos?
Esta é nossa oportunidade de responder a esta chamada. Este é o nosso momento. Esta é nossa vez”

Se mudanças significativas ocorrerão? Ainda é cedo para definir, certo é que há esperanças e expectativas exacerbadas depositadas em um só homem em quatro anos. O mais importante para a história já ocorreu, que é a mudança no imaginário das pessoas que assistiram a eleição, a emoção daqueles que lotavam as ruas de Chicago e o mundo conectado a uma decisão politica. As pessoas que gritavam, os movimentos de apoio em vários países, a monitora maluca que escrevia “Viva Obama!” no quadro, tudo caracterizou o exagero, mas também a importância representativa nas crenças sociais. Já não tem mais sentido social ver filmes hollywoodianos com negros na presidência.
Tatiana Coêlho

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